O Brasil é o país do elefante americano, portanto podemos dizer que temos um elefante brasileiro. A principal diferença entre os elefantes asiáticos e os africanos é que no segundo o tamanho das orelhas é bem maior. A diferença entre eles e o elefante brasileiro é que o nosso nunca chega à idade adulta, nunca aprende as mesmas lições e nunca perde o velho medo que tem de ratos.
Eu assisti recentemente uma palestra sobre energia limpa. Aprendi muito sobre iniciativas interessantes e até viáveis dependendo de onde se queira aplicar, como o uso de painéis solares em comunidades muito distantes, a exemplo das que se localizam no interior da floresta amazônica, cuja distância inviabiliza a construção de grandes malhas energéticas. Porém, mais interessante ainda do que isso foi aprender sobre o potencial energético do álcool produzido aqui, no Maranhão e no Brasil.
Apesar de o nosso país já possuir uma extensa fronteira agrícola ocupada por rebanhos de todos os tipos e culturas de todas as ordens, ainda nos resta um enorme pedaço de terra agricultável sem que com isso tenhamos de assistir o avanço do desmatamento sobre a floresta amazônica e a destruição de biomas importantes como são o pantanal e a caatinga. Vale lembrar, no entanto, que eu não sou ingênuo a ponto acreditar totalmente que não existiriam devastações e crescimento desordenado dessas fronteiras sobre áreas de preservação, mas me pareceu que isso depende mais de uma rígida política de fiscalização (que ainda não temos!) do que do simples fato de não fazer. Somando a isso temos também o já conhecido clima favorável e alguma regularidade das chuvas.
Desde quando eu me entendo por gente que eu vejo ou ouço em algum lugar que o Brasil é o país do futuro. Houve uma época em que eu defendia isso como quem defende a própria religião, com muita razão inclusive, tendo em vista o país de grandezas em que nos tornamos. Éramos (ainda somos) uma potência agrícola em expansão, tínhamos uma indústria crescente e as exportações registravam cifras cada vez maiores. O auge do meu entusiasmo se deu com as disputas na Organização Mundial de Comércio. Senti que estávamos ganhando espaço, respeito – enfim, éramos ouvidos. Lutávamos contra as super-subsidiadas laranjas americanas, contra o super-protegido mercado agrícola francês, pelo reconhecimento da nossa carne como sendo de qualidade aceitável e muitos outros mais. Porém, o momento que mais impulsionou meu coração brasileiro foi quando, por conta de uma disputa em que a nossa Embraer desbancava a canadense Bombardier na venda de aviões de menor porte, o governo do Canadá boicotou a nossa carne alegando que tínhamos casos de “mal da vaca louca”, fazendo com que os Estados Unidos e México também realizassem o boicote, graças a um tratado existente entre eles, o NAFTA. Aquilo me tomou de ódio e ao mesmo tempo de paixão. O resultado é que o governo de lá foi obrigado a admitir publicamente que estávamos livres de qualquer mal em nossa carne, inclusive o “mal da vaca louca”. Foi um dos poucos momentos na minha história em que me senti representado dignamente como brasileiro. Além desses, muitos outros motivos contribuíram para que a minha brasilidade se tornasse algo concreto e presente na minha vida.
Mas os tempos são outros, as idéias são outras e o meu sentimento nacionalista agora está sentado como quem espera alguém que demora muito a chegar. O fato de ser uma 10ª economia mundial dirigida por pessoas comprometidas com o umbigo faz de mim um visionário frustrado. Revoltado, diria, ávido por iniciar imediatamente a caça aos ratos, os mesmos que inibem os nossos ingênuos elefantes.
A população, passiva enquanto o problema não chegar de fato ao seu quintal, já está calejada de informações sobre a situação política e econômica do Brasil. A imprensa, acredito, tem até cumprido bem o seu papel de noticiar a crise de identidade nacional, adentrando nos fatos e denunciando até o que é visto só pelo buraco da fechadura. Formulamos críticas, opiniões e tudo mais que possa ser discutido com o vigia do serviço, mas o que de mais palpável estamos fazendo? Necas! Temos ciência das tarifas telefônicas, das taxas de juros, da crise aérea e mesmo assim continuamos aqui (inclusive eu), sentados no sofá da sala e no banco do carro, confortáveis em nossa própria ignorância. E como se não bastasse, ainda tem as crises com os vizinhos. Nos tornamos reféns de um gás socialista extraído por instalações que pertenciam à Petrobras e viramos alvo de chacotas de um Fidel sul-americano de comportamento xiita. A propósito, que moral tem um corpo político como o nosso, mais especificamente o Senado, para enviar uma carta repudiando um ditador legalmente constituído por ter fechado a maior emissora de TV do seu país? Chavez, sim, tem todos os colhões para dizer que temos um bando de papagaios democráticos e que o Mercosul tem apenas três meses para aceitá-lo como parceiro, caso contrário, dane-se!
São muitos problemas a serem enfrentados, muitos ratos a serem dizimados, mas todos passíveis de uma derrota justa. Preocupa-me mesmo é o futuro: seremos uma nação de elefantes em análise. Preparem-se, psicólogos!
Um abraço.
Adagga