A minha relação com a comida sempre teve uma estreita ligação com o amor. Quando estou amando ou, pelo menos, me sentindo desejada, querida, amada, sinto um prazer enorme em comer, os alimentos ganham sabores e cheiros e o ato de comer torna-se um ritual imensamente prazeroso, quero cozinhar e inventar e misturar temperos, porque me alimentar, sentir o gosto das coisas é um prazer imenso e faz parte da minha felicidade de amar e ser amada.
Se não amo ou sofro uma desilusão absurda acontece justamente o contrário: a comida torna-se intragável e sou capaz de passar um dia inteiro sem comer ou me alimentando como se cumpre uma obrigação, que não tem prazer, nem gosto, é só um dever. Então, como qualquer coisa e, geralmente, nessas fases, como sempre a mesma coisa, algo que sei que vai me alimentar, sem me dar muito trablho tampouco qualquer prazer.
Não sei quando isso começou, talvez seja algo do inconsciente do meu eu ainda bebê, quando se alimentar era também uma relação de amor com a mãe, no ato da amamentação. O fato é que talvez eu nunca tenha conseguido superar essa fase e até hoje se amo o outro, se me amo, se sou amada, me delicio com a comida, do contrário cumpro a obrigação que me mantém viva.
Lembro de uma vez que cheguei a perder muitos quilos, por falta de amor, é como se a inanição fosse apenas um elemento dessa ausência ainda maior.
Loreley.