domingo, dezembro 31, 2006

Mais um ano se passou, dizem que ano novo é vida nova. Não creio nisso.
Quando paro para analisar minha vida percebo que estou diante de um desprentensioso amotoado de retalhos ...Pitoresco, mas não suficientemente "artistico"!
Há pedacinhos e partes de tecidos e cores, retalhos de pano,os dias de minha vida.
A minha vida só se compara a esses retalhos pois cada pedaço é algo que faz parte de mim, por exemplo: minha familia, meus amigos. Enfim, mesmo tendo muitos retalhos, sou agradecida, pois o que seria de mim sem minha familia, é nela que encontro todo apoio para superar os obstáculos. O que seria de mim sem meus amigos - tantos os novos, quantos os mais antigos - são eles que sempre me dizem "vá em frente, estamos contigo". Eu aprendi uma coisa na minha vida, que amigo é verdade, razão, sonho e sentimento. Amigo é para sempre, mesmo que o sempre não exista...
Essa amontoado de retalhos que se formou é na verdade sem nenhuma beleza aparente, podendo não ser um tapete de veludo, mas mesmo acolchoados malucos têm propósito e é assim a minha vida...
Espero que cada um de vocês que lerem possam também ter uma vida de propósitos
Feliz Ano Novo p/ todos vcs!!!

*Alex

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Sem nenhuma criatividade e vários questionamentos termino o ano. E ainda que vocês não acreditem mais questionamentos do que o de costume.
Sinto-me como uma louca confusa, vivendo o novo e antigo numa festa finita, que sei lá quando termina. aff... Loucura, loucura, loucura.
Ora sofro com essas novidades e quinquilharias, ora (como diz o “caboco”) me “advirto” com tudo. E me lembro que até uva passa... (essa é velha)
E como até uva passa, mais um ano se passou...
E ouvir falar de vocês, sobre vocês, com vocês foi muito bom!
Alegraram minhas manhãs, tardes, noites e madrugadas. Algumas vezes deixaram algo engasgado ou falaram o que eu queria ter dito.

E pra terminar este ano com muita frescura, se é que não postarei antes dos fogos: Adorei conhecê-los!

Um novo ano de muitas confissões... ou não.

Beijos

Ana

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Poema do Menino Jesus

Fernando Pessoa

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz

E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
...

Feliz 2007,
Bel Ami

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Lista de desejos

Natal, ano novo, peru, presentes, lentilhas, sorrisos, promessas, regimes, descontos... E assim a vida continua em 2007. É o momento para fazer planos e listas de propósitos, estipular metas, alvos... Mas pensando melhor, pra quê isso? Posso dormir num mundo e no dia seguinte acordar em outro completamente diferente! Melhor mesmo é manter as coisas como estão e tentar ser feliz assim.

No entanto, devo confessar que adoraria ver algumas coisas de cabeça pra baixo neste país, sem desconsiderar que já somos um país meio torto assim. Por isso lanço aqui uma lista de desejos para 2007:

1 – PATRIOTISMO

Já parou pra pensar em quantas vezes você cantou o Hino Nacional neste ano?

“Pô, Adagga... Hino Nacional?!”

Sim, ou vai dizer que não dá gosto ver a seleção de futebol da Argentina jogando contra outro país? Eles jogam com muita raça, amor à camisa e respeito ao que defendem, bem diferente de outros conhecidos nossos. Porém, é claro que a Argentina como nação (e como seleção!) não é o melhor exemplo a ser seguido, embora tenha muitos bons exemplos a dar.

O sentimento nacionalista anda meio apagado por aqui. Tomemos como exemplo o desconforto provocado pela Bolívia quando tomou posse das instalações da Petrobrás fixadas naquele território. Para mim e muitos outros brasileiros foi constrangedor lidar com a sensação de impotência provocada pela diplomacia do nosso país. Ainda assim, o assunto restringiu-se apenas a alguns noticiários e análises de cientistas políticos, e nada mais. O vídeo da Daniela Cicarelli (guardado o intervalo de tempo entre os dois assuntos) rendeu mais respaldo popular do que o nosso problema com o gás boliviano.

Lembro quando enfrentamos o problema da carne contra o Canadá. Tivemos nossos filés e tantas outras partes do nosso gado vetadas por conta do crescimento da Embraer sobre a Bombardier canadense na fabricação de aeronaves, sob o pretexto de estarmos com o mal da vaca louca. O embargo também afetava as exportações para os EUA e México, devido ao acordo existente entre eles, o NAFTA se não me engano. Foi linda a nossa reação, ainda que um pouco modesta. A Jovem Pan deixou de tocar músicas de artistas canadenses, consumidores conscientizados boicotavam produtos fabricados lá e até a página oficial do Governo do Canadá foi atacada por hackers brasileiros, que exibiram na página principal uma vaca de biquíni com os dizeres “Hi canadians, this is your crazy cow!”. Sensacional! Além disso, conseguimos que a Organização Mundial de Comércio obrigasse o governo canadense a emitir um pedido de desculpas e atestar a qualidade da nossa carne.

Coisas assim me empolgam, me fazem sentir mais brasileiro, mas não é o que percebo entre os jovens que me acompanham na vida. As pessoas estão muito preocupadas em construir uma vida profissional sólida, comprar um carro cada vez melhor, uma casa cada vez maior e quanto mais o dinheiro permitir. Há muito tempo os movimentos estudantis deram adeus e quase ninguém fala numa nova era cultural, em algo tão impactante quanto o tropicalismo ou bossa nova. Resumindo, sinto que precisamos de um novo momento político e cultural para vivermos e ensinarmos aos nossos filhos e netos quando estes estiverem estudando a NOSSA história, e não somente aquela ladainha portuguesa e o colonialismo das Américas que já estamos carecas de conhecer das salas de aulas.

2 – RESPEITO

Uma vez eu vi um casal discutindo e a mulher, no cume da sua cólera, mandou o companheiro tomar lá se sabe onde. Particularidades à parte, eu acho ridículo um comportamento assim vindo de uma mulher. Se fosse de um homem, tudo bem, os homens são brutos por natureza, mas as mulheres não, elas representam o que há de melhor na psique humana e não convém que lábios que merecem ser beijados com tanto carinho lancem tais aberrações contra alguém ainda que este merecesse todas as farpas deste mundo.

Respeito é bom e eu gosto. Todos gostam. Além do mais, não é uma tarefa hercúlea respeitar alguém. Se não for possível, ignore-o, mas o que não vale é sair do salto.

3 – GARÇONS TREINADOS E EM MAIOR NÚMERO

Precisa dizer mais? O atendimento nos bares de São Luís é péssimo! O único lugar que ainda não tenho problemas é no Bar do Léo, no Vinhais. Nos demais, os garçons demoram a atender, atendem mal e às vezes ainda trazem cerveja quente. Sobre os bares que só vendem Nova Schin então... (ui! ai!).

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Deixo para os amigos de Confessionário meus votos de um feliz natal e que tenhamos todos muitas realizações no ano que vem, que meu fígado resista às festividades de dezembro e que o caminho de casa seja sempre muito bem lembrado (e percorrido).



Um grande abraço.






Adagga

domingo, dezembro 24, 2006

Será!?

Já me apaixonei varias vezes. Algumas vezes admiti e em muitas não. Nem pra mim mesma admitia que pudesse estar apaixonada.
No começo da adolescência, me apaixonei varias vezes. Mas só eu sabia.
O primeiro beijo veio depois da permissão da mãe. Só depois que minha mãe permitiu, eu me permiti beijar. E hoje como uma boa adulta (careta ou não) sou capaz de dizer que poderia ter esperado mais.

Depois do beijo o namoro. E antes dele um sentimento que por quase três anos escondia de mim mesma ser paixão. O namoro acabou, mas a paixão ficou, por quase o mesmo tempo que o namorou durou. Mas passou.

Depois disso, outras pequenas paixões. Umas mais intensas outras nem tanto. Algumas deram em namoro. Enquanto outras deram em beijo, quando eu ainda acreditava que isso era importante.
Porem uma paixão eu vivi e viveria novamente. Nesta sonhei como em todas as outras e mesmo sem admitir que fossem especiais pra mim, alguém sonhava comigo.
E mesmo sem saber, minha vida já estava direcionada para viver esse ”amor”. Mas como uma boa história de amor, ele partia e eu ficava. E como um típico final, ele conhecia alguém e o “amor” acabava. Os que me conhecem sabem o quanto amei.

Mas será que amei mesmo? Ou só senti. Hoje vejo que só senti. Poderia ter amado. Foi melhor assim? Meu deus, ainda penso nisso... odeio esse remoço. Odeio essa historia.

E tenho muito mais a falar. Mas é algo tão mal resolvido (eita, isso dói!) que nem como anônima gosto de comentar. E nem sei se vou postar isso....

Seria capaz de justificar de varias formas esse meu fracasso. Mas de que adiantaria explicar um erro, se eles simplesmente acontecem. Depois passam e erramos novamente. Ufa... To conseguindo me sentir comum.

Confesso que é um misto de sensações que não saberia descreve com clareza. Com certeza uma boa alise ajudaria. Um dia ela ainda entra na minha lista de realizações de ano novo.

Boa noite.

Ana

sábado, dezembro 23, 2006

Passei a noite pensando em ti

Eu te leio e me fascino com a maneira que tu articulas os sentimentos e pensamentos.
Amo tua "liberdade de criar e de compor a vida"! Tuas palavras são apaixonantes e me conquistam a cada sílaba, a cada letra.
Não te conheço, nunca te vi, mas tenho a sensação "de que sempre te amei".
Eu te amo em letras, te desejo em versos e te quero em prosa.
Não preciso te ter. A mim, basta a vontade de ti e o anseio em te ler de novo.

Muitos beijos

Glória Vox

Uma parte do meu relicário

Naquele dia,você me fez a mulher mais feliz do mundo, chegou de repente e me deu o melhor presente que já ganhei em toda vida.
Naquele dia, você me deu asas, me fez voar longe, perdida em meus sonhos mais secretos.
Naquele dia, você me fez sentir esperanças e me fez pensar no futuro.
Você me fez pensar no dia em reviraríamos nosso álbum de fotografias e contaríamos nossa linda história de amor a nossos filhos, fazendo-os acreditar em tudo aquilo de que um dia duvidamos e convencemos um ao outro do contrário.
Naquele dia, o dia em que apenas um forte abraço foi o mundo inteiro para mim. Teus braços foram o lugar mais seguro e confortável em que já estive.
Tudo é tão nítido ainda... Teu olhar, teus cabelos envoltos em meus dedos e nossa vontade de ser feliz.
No início, achei que tudo era mágico demais para ser real. Como aquilo poderia ter sido melhor do que meus sonhos?
Uma semana depois, você me tirou quase tudo: as esperanças, os sonhos, sua voz, seu corpo, seus olhos e nosso futuro. Eu te odiei para me livrar de tanta dor.
Hoje, eu te agradeço mais do que nunca, porque como eu disse, você me tirou quase tudo. Ainda guardo em mim, algo que me é caro e que ninguém jamais vai poder me tirar. Algo que é só meu e talvez jamais tenha sido nosso, o que sei é que "o momento" ficou congelado, imortal e intocável, e dele eu nunca abrirei mão.
Cris Moreto

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Meu mundo é hoje...

Um pouco de malandragem para os corações formais e almas engravatadas – e um sorriso vestido de vermelho para vocês. Por que? Porque “Eu sou assim... Quem quiser gostar de mim... Eu sou assim...”, e um “salve” para o anjo vagabundo que compôs esta certeza!

No mais, os ignorantes é que são felizes! O céu e as quarenta virgens pertencem a eles – o inferno é apenas para os ajuizados de papel. A Terra (AH, TERRA!), esta é para quem está de passagem para uma cerveja gelada ali na esquina, umas castanhas assadas e um cavaco ditando a melodia da saudade! E que saudade...

Mas sou recompensado por algumas tragadas dedicadas de um Carlton manjado e um olhar de menina que por acaso chocou-se com o meu numa incerteza qualquer da madrugada de São Luís. É... “Meu mundo é hoje... Não existe amanhã pra mim... Eu sou assim... Assim morrerei um dia...”.

“Além de flores”, meus amigos, “nada mais vai pro caixão”.


Um abraço respeitoso.




Adagga

domingo, dezembro 17, 2006

"O romper do dia"




Ele ainda não se via, mas o dia já tinha nascido.
E pra minha surpresa ele aparecia, brilhando vermelho no céu.
As gaivotas, que não sei se estão visíveis na foto, dançavam de um lado para o outro, como se festejassem a sua chegada.
E o meu desejo era só calar, e contemplar mais um espetáculo da vida.

Uma ótima semana a todos.

Hipocrisia: essa é a ordem do nosso país

O natal está chegando e junto com ele uma massa de pessoas hipócritas. Sinceramente me vejo em uma sociedade corrompida, que só se prontifica a ajudar as pessoas quando estamos numa época como essa, tão especial.
Nesse determinado período do ano, olhamos pessoas dando um total apoio as comunidades carentes; a crianças de rua; a asilos, enquanto em outras datas,não fazem nada para mudar o quadro desses grupos que necessitam de apoio não só no natal mas sempre.
Muitas das vezes me pergunto: "que pais é esse, onde o governo tem dinheiro p/ tudo, menos para dá uma assitência digna à essas pessoas?". Na mesma hora me respondo: "esse é um país onde as pessoas só valem pelo que têm e não pelo que são. É um país onde as pessoas só valorizam o dinheiro e não as qualidades que o ser humano tem...
Hoje a palavra de ordem no nosso Brasil querido é HIPOCRISIA. Como toda regra tem sua exceção, essa nova geração, a geração de jovens que buscam mudar a realidade do país, está ai para fazer a diferença.

obs: desculpem se tem algum erro...


*Alex

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Sou ninguém

Acreditei que houvesse em mim algo que me tornava melhor que muitos outros.
Talvez tivesse acreditado pelo fato de nunca ter escutado isso de quem eu realmente queria e por estar cercado de pessoas que se julgavam auto-suficientes. Fui até esforçado, mas não o bastante, eu acho...
Pra ser sincero, deve ser a segunda vez que percebo isso. Na primeira, cheguei a pensar que era louco ou algo parecido... Até desejei ser um! Logo descartei a loucura e descobri que era apenas algo relacionado com meu ego.
Na segunda, não sei o que despertou esse sentimento de superioridade. Cheguei a esquecer que havia lutado e derrotado esse meu lado antes.
Tive sorte de estar próximo daqueles que se diziam “especiais” dessa vez, pois os vi estremecendo e chorando...
Estranho dizer que isso me fez sentir aliviado, já que foi algo pelo qual lutei durante muito tempo, mas foi bom saber que eu não era o único “ninguém” que queria ser especial! Mas isso não significa que vou deixar de tentar...

Parvo.

Passatempo

Bel Ami menino. Bel Ami criança. Faz de conta. "Faz de conta que todos nós somos baixinhos, heróis e amiguinhos, tudo nessa terra linda". Terra linda que se descoloriu. Culpa da vida adulta; o encanto feneceu. Contar 1, 2, 3 e acreditar que é possível pintar um arco-íris de energia e deixar o mundo cheio de alegria, ficou no passado. Um passado mágico, diga-se de passagem. Tão mágico que se hoje não sou um adulto amargo, devo a fada madrinha (dinda ou dindinha) da minha infância.

Lembro pouco desse tempo, mas sei que fui uma criança feliz. E como toda criança feliz, eu tinha medo de tabuada. Aqueles números, aquelas operações... multiplicar então, uma luta. Teria tido uma infância mais fácil sem a matemática. Bom mesmo era sair correndo da aula e arrumar a toalhinha do lanche na hora do recreio, sentar com os amiguinhos e conversar sobre desenho. Era o que eu fazia de melhor, sonhava e sorria sem motivo, contava com cada um dos meus amigos - “a gente conta conta conta contigo, e você conta conta conta comigo”.

Eu falei de desenhos, porque criança sem desenho não existe, eram vários os que eu gostava - os Smurfs, He-Man, She-Ra, Thundercats, Cavalo de Fogo, Caverna do Dragão, etc. Uma das minhas frustrações, aliás, é nunca ter assistido ao final de Caverna do Dragão (nunca foi feito), e não entra na minha cabeça que o Uni era do mal, é como se a Smurfet transasse com os outros Smurfs. Ainda bem que me falaram que eles (os Smurfs) são assexuados, então desse mal, eu não corro. Tirando isso, eu me achava superior por ter todo o castelo de Greiskul, ganhei de Natal, fiquei felícissimo, também queria ter pedido a coleção da Moranguinho, só que isso eu não podia assumir em hipótese alguma.

Uma coisa eu fazia escondido no meu quarto: imitava a Xuxa. A nave era minha cama. Eu inclusive arrumava meu quarto todo para isso. Tinha tudo. A calda do dragão que era um escorregador, o carrossel, a pedra falante, o praga, o dengue, os ponpons coloridos, as paquitas, a nave cheia de boca vermelha... o resto eu não me lembro. Descia da cama e fazia meu programa. Enjoava rapidamente e ia brincar com meu boneco do He-Man, ou então jogar Alex Kid. Mesmo esquecendo da Xuxa, devo muita coisa a ela, foi a Rainha que me ensinou o ABC.

Depois ganhei meus patins - teve uma época que isso foi febre, e ralei várias vezes o joelho. As crianças de hoje não se machucam mais, uma pena. Não queria ser criança hoje em dia, elas não têm boas músicas, e se conformam com desenho japonês. Depois dos patins meus olhos começaram a piscar. O que é, o que é? Hora de namorar. Pronto, já não queria mais brincar, queria carinho, não o da minha mãe. Adeus infância, Bel Ami tornou-se um romântico.

Mesmo assim, seria bom voltar no tempo, e saborear cada pedacinho da minha infância de novo. Acordar bem cedinho, feliz da vida, olhar pro relógio, e esperar dá 8 horas pra assistir ao Xou da Xuxa. “E nesse din din don, juntinhos como é bom, a gente deixa o tempo passar, cai na farra e entra no ar. Teu relógio acerte com o meu, se bateu valeu”. E assim, passa 98, passa 97, passa 96. Eu assisto à fada Bela em Caça Talentos. Passa 95, passa 94. Não perco Tv Colosso. Passa 93, passa 92, passa 91. Pulo corda com o Trem da Alegria. Passa 90, passa 89. "É tão bom, bom, bom, bom". Passa 88, passa 87, passa 86. E a vida é um doce. Depois disso, eu ainda não era vivo, então nem dá pra contar... Saudade da minha infância, ela foi a realização de um sonho em vida. O futuro agora me pertence, mas bem que eu queria voltar, nem que fosse por um segundo, aos meus tempos de nave espacial.

Bel Ami

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Os raparigueiros e o futuro da nação

Jovem adora novidade. Eu particularmente sou fascinado por novas tecnologias e sempre que posso guardo um trocadinho para satisfazer meus fetiches cibernéticos. Recentemente adquiri um monitor LCD de 17” cujo botão de ligar resume-se a um discreto sensor que exige apenas um passar de dedos para que seja exibida a imagem na tela. É lindo!

Mas as coisas não acontecem por acaso. Fui um adolescente viciado em Super Nintendo e passei vários dias (talvez anos!) da minha vida jogando as séries de Super Mario e Donkey Kong Country. A curiosidade em torno dos jogos era tanta que inúmeras vezes me perdi em pensamentos imaginando como seria o passo seguinte e coisas assim. Em outras ocasiões, insatisfeito em apenas jogar, resolvia tentar abrir o console para descobrir como se apresentavam as suas entranhas, mas nunca conseguia. Como não existia um controle sobre os meus horários, era muito fácil varar a noite entre meus vícios e conquistas virtuais.

Acontece que as coisas mudaram, os pêlos cresceram e eu precisei trabalhar. Hoje eu mal tenho tempo de assistir TV e os intervalos que me restam são para ouvir uma estação ou outra de rádio, principalmente na hora do almoço quando estou na minha casa. Na busca por uma distração, acabo sempre esbarrando numa tal de Mais FM e às vezes na Rádio Cidade, duas freqüências populares em São Luís.

Quem acompanha a programação das rádios em suas casas ou carros sabe que hoje temos uma vasta opção de músicas que tratam da raparigagem como uma boa prática masculina ou no mínimo comum e aceitável entre as pessoas do nosso meio em geral. Imagine você, caro colega que não sabe do que se trata, que um dos autores, no ápice de sua composição, ameaça a coitada da sua esposa dizendo que vai alugar um caminhão, parar na frente de um cabaré e encher ele de mulher, bastando para isso que a mesma reclame das saídas noturnas do dito cujo que acontecem por vários dias seguidos. Outro, ainda no mesmo tom, orgulha-se de passar todos os dias úteis da semana gastando o seu dinheiro (que não deve ser muito) com raparigas e bebidas também no cabaré, retornando no sábado cedinho para dar um trato na mulher, tomar mais uma antes do almoço e então descansar. Não atentei para o resto da programação do pé-inchado em questão.

Na verdade são muitos os exemplos e não convêm cita-los todos no Confessionário, mas uma coisa me preocupa bastante: como serão os adultos que hoje dançam e cantam essas músicas em suas festas e no dia-a-dia de seus lares? Como serão as suas famílias e atitudes? Como seremos nós diante de uma geração que aprendeu que não é tão ruim assim levar a vida entre a embriaguez e a irresponsabilidade diária?

Os jovens, sabemos, são o futuro da nação – e eles são ouvintes presentes. A banalização da boemia mascarou a saudável vida dos bares em uma ferramenta destruidora das bases de uma vida social tranqüila, a família. Pessoas como eu, que cultivam compromissos de ocasião, devem assim permanecer se assim acharem melhor. Porém, uma vez casados, é imprescindível que cumpram os deveres matrimoniais para que os filhos dessa união não se tornem pessoas frustradas e responsáveis por vários cânceres sociais como conhecemos hoje. Para isso basta lembrar que bar não é lar.

Por isso manifesto minha insatisfação com essa medíocre safra de autores e encerro a participação com uma música que canto sob condições de ebriedade e solidão:


O MUNDO É UM MOINHO (Cartola)

Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar.

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és.

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó.

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés...


OBS: Perdoem-me qualquer erro na letra, conheço-a só de ouvido.



Um abraço.






Adagga

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Me procurei

aqui pra fins de "retrospectiva 2006" e quase morri de susto quando não me encontrei. Depois de afastada a lerdeza,juntei os trapos e fiz o balanço de perdas e danos. Abraços

Carlota

A Necessidade de Acreditar

Há algum ser que acredite ABSOLUTAMENTE em Deus, quando uma dor lancinante o dilacera por dentro?! Há quem busque sempre, de forma invariavelmente sincera, nos braços etéreos (e efêmeros) do Pai, resignação, amparo e calor?! Há quem creia em TODOS os momentos?! Sem pestanejar?! Sem que o demônio da dúvida o fustigue a concluir que pra cima só existe um nada que é impossível alcançar?!
Não sou atéia... Nem acho inteligente ser. Pra falar a verdade acho até muito burro. Porque a gente não sabe de nada, por mais sábio que pareça ou tenha estudado pra ser. Deus, no mundo da gente, serve pra abarcar as coisas que a gente nunca vai saber, justamente porque são coisas as quais Ele faz questão de esconder a resposta, para que nunca deixemos de acreditar Nele.
Deus vive da nossa dúvida. É por termos dúvidas que o buscamos cada vez mais. É por nem sempre nos sentirmos "carregados em seus braços, quando não podemos caminhar", que
continuamos a buscar pelo momento, ou pela dor que nos tornará merecedores de tão ilustre "carona".
Já me questionei profundamente, sim, sobre a existência Dele e hoje afirmo que o faço de forma cada vez mais rara... Não por ter encontrado as resposta que eu procurava, mas por me cansar de vê-las sendo sucedidas por ainda mais dúvidas.
Agora, por exemplo, sinto uma dor que parece entupir meu estômago e mastigar meu coração... E eu continuo a buscar consolo, alegria e esperança nos braços do Pai.
Porque as palavras que escuto não são as que preciso escutar... As pessoas com quem convivo não são suficientes para me bastar... E meus olhos não encontram nenhuma imagem que os façam desistir de chorar.
Se no mundo que posso ver e tocar não encontro aquilo que procuro, então passo a buscar naquilo que às vezes nem por auto-sugestão sinto. Porque pior mesmo, do que a dor, o desamparo e o desespero, é não ter em que acreditar.

Pra vocês um texto da Clarice Lispector que fala bem sobre isso. Espero que gostem:


Meu Deus, me dê a coragem
Clarice Lispector

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.

Sabina.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Voltei...

Voltei... Com a alma abatida, abrasada de dor... Fiz o caminho de volta... Voltei do lugar onde estavam teus braços.
Voltei fustigada por uma dúvida que cala toda paz que já tive um dia. Voltei com a incerteza sobre mim mesma... Voltei sem saber onde estou.
E aqui nesse lugar, longe dos teus gestos e do teu cheiro, o mundo se abre num vão imenso que não vai dar em lugar nenhum, e todas a ruas, todos os rostos, todas o sons tornam-se tortuosos e monstruosamente estranhos, sem você aqui do meu lado.
Voltei porque já não sabia mais pra onde ir... E agora continuo sem saber.
Pelo menos antes eu tinha teu olhar. Agora a lembrança dele arde dentro de mim como
se fosse a única coisa que vi antes de ficar cega.
E fico buscando a tua voz pelos cantos, e resquícios de nossas estórias em todas as músicas... E tento fazer isso com alegria... Mas só tento...
Eu voltei de onde estava você, pra um lugar onde nem eu estou.
E penso aqui sozinha onde irei botar minhas pernas, meu braços, minha boca... Todos os meus membros ficaram muito confusos e sem utilidade, agora que não te tenho mais.
Fico pensando em como continuar minha vida com a nossa vida encrustada na pessoa que sou hoje... E penso em como fazer para que não vejam em mim você, e para que eu minta que está tudo sob controle, que não me sinto morrendo por dentro.
Voltei pra um lugar que não tem estruturas pra me suportar. Voltei para um cubículo minúsculo onde não posso sequer respirar...
Mas foi preciso partir, para demonstrar uma força que todos sabem que não tenho...
E desse fim de mundo, escuto de longe a tua voz... Que não diz: "sai daí, vem pra mim"... Ela ecoa de leve na minha mente, e diz: "desculpa, eu não queria te deixar voltar"...
Eu voltei, sem condenação, nem nada, apenas por amor próprio para uma prisão chamada "orgulho".

Sabina.

Apesar de

Não estou triste. Melancólico, sempre. Eu sou muito nostálgico, não posso ficar parado que lembraças vêm me atormentar. E nessa madrugada, tão calma quanto as outras, o dia da semana me atordoa. Quarta-feira. Em outras quartas-feiras eu não estive só. E nesse mesmo horário eu amava. Um horário meio místico. Horário de fábulas.

Li o texto recitado pelo meu amado, que apesar de nem ser tão amado, foi o maior amor de Bel Ami em 2006. Foi em alguma quarta-feira, ele disse: "me deparei com um trecho que mesmo fora de contexto tem muito do que eu gostaria de dizer para você. Faça sua interpretação meu bebê." - Hora dos meus amigos do Confessionário interpretarem:

"Lóri, disse Ulisses, e de repente pareceu grave embora falasse tranquilo - Lóri: uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi... E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha... espararei quanto tempo for preciso."
(Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres)

Eu interpretei, há muito tempo. E espero. Apesar de, espero por outra quarta-feira cheia de fábulas.

Bel Ami

terça-feira, dezembro 05, 2006

DESEJO.FANTASMAS.PESADELO

Eu tento fugir, me esconder.
Espantar meus fantasmas tem sido meu maior desejo e meu maior pesadelo.
Pesadelo, fantasmas e desejo.
Palavras que já nem sei mais distinguir.
Meu desejo transformou-se em um fantasma que insiste em me perseguir.
Transformando meus dias e minhas noites em um verdadeiro pesadelo sem fim.
Eu queria poder nascer de novo.
Não quero sentir o que sinto,quero poder apagar tudo!
Tudo o que tenho feito e que teimo em querer mais!
Anseio pela próxima noite.
Espero ansiosa por aquele toque.
Prometi não fugir.
Prometi entregar-me sem pensar no estrondo.
Falhei!
Nunca fui boa em promessas, mas sempre consegui tudo o que quis.
Então por que não consigo me livrar de tudo isso?
Por que não páro de desejar o que para mim é tão difícil de aceitar?
Quero acordar e poder sonhar novamente.

Virgínia Clyde
Ouvindo uma música gostosa, senti um prazer imenso e escrevi quase tentando ouvir e entender o que eu queria dizer.

A vida tem tido um gosto especial...

Chego a quase senti-la em minha boca. Tem sido delicioso viver.
Tem sido especial cada dia. Cada conquista, cada tensão, cada falta, cada saudade. Cada vontade, cada raiva, cada alegria.
Os momentos são únicos como se estivessem sendo lembrados. Eu os percebo e decido: vou vivê-los, pois sei que serão eternos.
As pessoas viraram mistérios preciosos. Tão originais, que nem seus esconderijos me incomodam. Pelo contrario, tento encontrá-los. Conhecê-los! Isto se tornou minha grande busca, ou talvez a segunda.
Acho que nunca gostei tanto de gente.
O meu desejo tem sido sentir cada coisa. Sentir cada segundo. Percebê-los.
É como se a vida não tivesse fim. Mas a certeza é tão grande de que ela passa que não quero perder nada.
Perceber a vida tem sido viver.

Um grande beijo.
Ana

PROCURA-SE

Fiquei lisonjeado com a lembrança abaixo e confesso que adoraria dizer meu palpite sobre quem é o autor do post, mas prefiro manter a intimidade da minha opinião.

Entretanto, devo dizer que guardo profunda admiração por Bel Ami e Silvio, guardadas as devidas diferenças entre ambos. Para o segundo eu já tive oportunidade de ressalta-lo pessoalmente. Inclusive aproveito o momento para lembrar que as conveniências e obrigações da vida apenas aumentaram a minha saudade e que estou ansioso por dias (ou madrugadas) felizes como foram aqueles de julho em que tanto conversamos sobre tantas coisas. Quanto ao Bel Ami, não o conheço e nem tive oportunidade de compartilhar idéias, mas posso afirmar que sou leitor assíduo dos seus posts e que muito me atrai a sua sensibilidade para com as pessoas e situações. Além disso, já tentei algumas vezes saber de quem se trata para que pudéssemos bater um bom papo, mas sempre esbarro na regra mor do Confessionário, aquela que mantém o anonimato e que conserva o charme do espaço.

Como leitor freqüente do Confessionário das Letras, resolvi listar alguns dos confessioneiros que me fazem grande falta por estarem ausentes há tanto tempo ou por terem breves participações, embora todas elas, as de lá e as de cá, tenham sido marcantes:

Lord Strangford
Maria Maria
Silvio
BoB
Carlota
Morgana
Julianna
Mística
Dr. Fritz
Cris Moreto
Silvana D'ália
Miriam Todda
Valentino Pepa
Guilhermina Guinle
Mavie
Sabina
Dolores Trinidad


Um abraço.





Adagga

Três textos

Acabei de apresentar o Confessionário para um amigo meu. Mostrei o último texto postado nele, até então, o de Adagga (As reduzidas do Ceuma), apenas por diversão. Pelo visto meu amigo se interessou e pediu os meus escritos. Claramente eu neguei, afinal, é regra do blog não se identificar. Inusitadamente, ele deu a idéia de eu selecionar alguns textos e mostrar para ele, sendo um desses textos o meu. Eu topei.

Selecionei três autores que gosto muito. Com o maior cuidado escolhi momentos dos escritores que não compactuavam com o caráter ou gosto do visitante. O primeiro texto que mandei foi o de Sílvio, “Uma péssima noite”. Sílvio fala de uma noite mal dormida graças aos problemas de uma garota, que o intrigam bastante. Adoro esse conto, e meu amigo também gostou.

O segundo enviado foi o de Bel Ami, em um momento de revolta, “Quer porrada? Vai ter...”. Pro meu espanto, ele gostou. Também gosto muito desse momento no blog. É bom, nas horas de desabafo, não medirmos palavras, e o Bel não mediu. Mostrou bem os conflitos por que passa um gay no dia-a-dia - aprende a ficar calado, quando o mundo merece ouvir seus gritos.

Por fim, mostrei outro texto de Adagga, “Valeu, Roseana”. Esse é um texto escrito na hora certa. Lembro que entrei no Confessionário esperando ler algo sobre a derrota da oligarquia, e Adagga não me decepcionou. Li esse discurso como se fosse pronunciado por mim para todo o Maranhão.

A primeira passagem é um devaneio, ótimo para pessoas positivistas e objetivas. A segunda é a revolta de um gay, ótimo para o ego dos héteros. A terceira é a “liberdade” do povo, ótimo para quem apóia o clã Sarney. Três momentos que não têm nada a ver com o meu amigo, e um deles era eu.

- Tu és Adagga?
- Eu não estudo no Ceuma.
- Bel Ami ou Sílvio?
- Qual tu preferias que eu fosse?
- Bel Ami. Ele é mais convicto. Mas não sei, você também lembra o Sílvio.
- Eu pensei que você conseguiria identificar.
- Chutar: Sílvio.
- Se tu achas que eu sou o Sílvio. Então, para você eu sou o Sílvio.

Depois disso mudamos de assunto. Espero que ele visite mais vezes o Confessionário.

domingo, dezembro 03, 2006

As reduzidas do Ceuma

Antes mesmo de entrar no Ceuma eu já sabia que lá era um shopping, um estacionamento privativo e uma fábrica automatizada de “profissionais”. Lembro que na escola os professores diziam que o canal para a formação superior era ali, e que qualquer outra faculdade do Maranhão, fosse pública ou privada, era fichinha perto daquela colossal infra-estrutura de “saber e fazer”. Talvez.

Devo admitir que temos bons livros e um rico acervo sobre diversos assuntos (até achei um livro de Rider Hagard, autor das aventuras de Alan Quatermain, um herói da minha infância). Os computadores nos laboratórios e na biblioteca quase sempre funcionam e acessam a Internet; o sistema online consegue quebrar a maioria dos galhos, desde rematrículas à renovações de empréstimos sem sair de casa; os professores são qualificados e atendem aos alunos quando requisitados, além de comparecerem praticamente em todas as aulas; temos data show, monitores LCD, salas climatizadas, cadeiras confortáveis... Enfim, o Ceuma é um shopping, um estacionamento privativo e uma fábrica automatizada de “profissionais”, mas, problemas à parte, concede ao aluno a faca, o queijo e o Nescau gelado para não engolir seco todos os entraves e dificuldades de uma faculdade. Digo isso com o conhecimento de causa de quem passou um ano e meio de sua vida acadêmica entre carrapichos e vacas na Universidade Estadual do Maranhão – e olha que eu nem fazia agronomia ou veterinária!

Por essas e outras é que me surpreendi quando vi o tamanho da fila que se formou dentro de uma loja (sei lá o que era aquilo) que tinha máquinas de fazer cópia, entre o tribunal do curso de Direito e o shopping Belas Artes, pouco antes de começar a prova. Avistei um colega de turma que estava entre os que esperavam e fui até ele perguntar qual material ele pretendia copiar pra estudar faltando tão pouco tempo pro início da prova:

- Vou tirar uma reduzida dos slides de fulano! Quer também?

Eu olhei para o livro que trazia, pensei na UEMA, pensei no dinheiro pago religiosamente todo mês, pensei no passe escolar custeado para ir até ali e pensei no que eu poderia vir a ser como profissional de conhecimento reduzido como também eram aquelas cópias e idéias de quem me ofereceu. Respondi miseravelmente que estava com pressa e precisava ir, e assim fui.

Fica a pergunta: do que mais precisa um estudante para tornar-se um estudante de fato?


Um abraço.



Adagga

Um pouco de nada

Também não tenho muito que dizer, mas tenho o que sentir. Uma poesia para acalentar esta madrugada.


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UM POUCO DE NADA


A gente se encontra
Se beija
E se encanta

A gente se olha
Se bate
E se espanta

A gente não quer
Mas finge
E se cansa

A gente que vive
E não vive
Esta dança.


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Conserve-nos um pouco da paz e brilho dos miseráveis que assim são por amarem demais a sombra de algo que se confunde com a luz refletida no próprio ego.

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Valério Beltta