quarta-feira, dezembro 19, 2007

Não declaro sepultado, mas talvez dormente.

Se dormente continuar, declaro doente e se assim permanecer, terminal... Minha esperança se estenderá por todo 2008 e, quem sabe, 2009. Acredito em surpresas! Assim como em desabafos e confissões. (rs)

Deixo meus sinceros votos de tranquilo natal e prospero ano novo!

Que estabeleçamos metas e que às cumpramos em sua maioria. Que celebremos a vida e choremos nossas dores em verdade.

Que seja um ano de sonhos e realizações.

Que nossas vidas não sejam em vão em 2008!!!

Beijos a todos, conhecidos e desconhecidos. Obrigada por participarem do meu 2007.

Sinceramente,

Ana

Addaga, o prazer foi meu.

sexta-feira, novembro 09, 2007

E assim eu declaro sepultado o Confessionário das Letras, com todas as honras merecidas.

Ana, foi um prazer.


Adagga

terça-feira, agosto 28, 2007

De todas as coisas que já falei, escrevi, pensei e senti, nada se compara a presença Daquele pelas quais todas as coisas se fizeram. Nem todo sofrimento, nem toda alegria possuem valor e espaço maior. E ainda que eu viesse a fazer muitas coisas, todas as que meu coração desejasse, ainda assim nada se compararia, ao sangue do cordeiro.

Ainda que houvesse oportunidades de consertar todos os erros, nada se compararia a graça que se renova a cada amanhecer.

Não há amor maior. Não há sacrifício...não há graça que se compare ao que está testificado em meu coração. Ainda que o bem que eu queria, eu não faça e o mal que eu não queira, eu pratique. Ainda assim há perdão para os que tem sede.

E se é para haver valor nas coisas que eu já postei neste blog, que haja na minha sede. A qual me sustenta e me faz ver sentido em coisas que não fazem sentido.

Que seja toda filosofia nula, toda doutrina insuficiente, toda religião peso.

E que haja luz.

Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas
, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.” Hebreus 4:12

E que haja arrependimento no meu coração.


Ana

segunda-feira, agosto 27, 2007

Não entendi!

Tava escrito, eu li, mas sumiu!
Loucura, loucura, loucura!

Ana

quinta-feira, agosto 23, 2007

"Não me sequestrem sou escritor"

A nós, escritores confessos, uma crônica de Marcio Paschoal:
Executivos Continuam Executando, Padeiros ao Pão e Escritores Fodidos http://www.cronicascariocas.com/marcio_paschoal.html.

Escritor que eu adoro por sua forma bem humourada de escrever!

beijos
Ana

EU VOLTEI!!! (O tema hoje é mudança!)

Em fim, consegui inspiração para sentar em frente a esse computador e escrever algo que esteja consoante aos meus sentimentos!!
Ufa.... Quantas saudades de mim mesma... do meu eu que pensa e tem tempo para escrever e que já está farto daquele outro que só sente freneticamente e fala inconseqüentemente quase tudo que passa por sua cabeça insandecida.
Estou tendo um verdadeiro orgasmo em voltar... Não sei ao certo quanto tempo faz, mas para minhas mãos parecem eras... Elas estão em verdadeiros espasmos de excitação por voltarem a tentar acompanhar minha falta de lucidez.
O que me impulsionou até aqui foi um programa de TV que eu ouvia enquanto lia meus e-mails, o que sinceramente acho uma chatice e nunca estou completamente concentrada neles. Embriagada pela instantaneidade da televisão, me voltei única e exclusivamente a ela, estava rolando um seriado que fala sobre maternidade e todos os dramas que envolvem esse tema.
O tema de hoje era mudança. Como e por que se permitir a viver novas experiências como o simples ato de comer algo que nunca se experiementou como até mudar completamente de estilo de vida, deixando para trás boa parte de nossos preconceitos e paradigmas engessados e tidos desde os primórdios como verdade absoluta. Tudo é mostrado com muita leveza, descontração, desde os diálogos até a produção do programa que me parece bem simples.
Assistindo a este tal programa, me dei conta de que uma das coisas em que mais tenho pensado é nisso, em mudança.
Será que de fato podem existir tantas mudanças como nós gostaríamos que houvesse??
Mudar é possível??? Mas até que ponto??
Mudar realmente é necessário??? Por que??
Porque eu quero mudar ou porque outros querem que eu mude??
O ser humano realmente pode mudar???
E a essência como fica???
Eu tenho me descoberto bem mais idealista e crédula do que sempre imaginei que fosse. Acredito sim em mudanças, desde que sejam realmente desejadas. Não é fácil, não é para qualquer um mudar. Felizes daqueles que conseguem operar veradeiros milagres dentro de si mesmos. E felizes daqueles que, como eu, acordam todos os dias e batalham contra sua essência, levantando lentamente e meio sem força a bandeira de mudança. Nós também temos o nosso mérito, as mudanças podem não ser repentinas ou radicais, mas paulatinamente elas se delineiam em nossas personalidades.
Ah!!! Como eu queria acreditar 100% em tudo que escrevi acima. No fim da contas, eu questiono tudo o que eu disse, ao pensar que a porra da essência é inexoráve,l e mais dia ou menos dia a máscara cai e tudo desce ralo abaixo. E esquecemos de todo esforço sobrehumano empreendido para chegarmos até ali.
Resta-me, entretanto, crer. É mais simples e menos doloroso, ou não... é na realidade, mais fácil, demanda menos esforços... Eu creio e se não der certo, foda-se, eu pago para ver...ou não.... eu titubeio. Mas tomara que dê tudo certo! Torçam por mim.
Hoje é meu reveillon atrasado e hoje sim, eu prometo mudar porque só hoje eu realmente quero mudar!! Por isso um brinde àqueles que creêm e apostam na vida.
Perdamos o medo, saiamos da toca, vistamos as roupas brancas e brindemos À MUDANÇA!

Um beijo cheio de saudades.

Billie Jean


terça-feira, agosto 21, 2007

Queridos, acabei de ver um vídeo e convido-os a fazer o mesmo. Trata-se de um documentário sobre a ilha das flores, o qual termona com a seguinte frase: "liberdade é palavra que sonho humano alimenta, que não há mimguém que explique e ninguém que não entenda."

http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=647

Beijos
Ana
"Os perfeitos não sabem o que é ser de carne e osso. Desconfiam do que são capazes de fazer e odeiam o outro no lugar da própria natureza.

Julgam-se bons e acabam como loucos, sobrecarregando àqueles que disfarçam odiar.Minha mãe sempre diz: "o bom julgador por si julga os outros".

E eu agora penso: verdade, mamãe. Afinal, como perceber o que, aparentemente, não se sabe? Só classificamos aquilo que já é conhecido."

Ana

domingo, agosto 12, 2007

Eu quis dizer que naquele jardim

Naquele tanto que nos fez assim

Foi lá que eu quis você

Quis você em mim.


Naquele jardim

Em que as rosas eram assim

Refletidas em você

E carentes de mim.


Foi aquele jardim

Que te fez assim

Linda, como só você

Como não há em mim.

-----------------------------

Valério Beltta


quinta-feira, agosto 09, 2007

Movimento, movimento, movimento, movimento...

- Senhora do meu destino (sem analogias), cansei de pensar e elaborar, quero pegar minha vida à unha e ir pra onde eu quero.

- Mas e se der errado e minhas piores previsões imaginadas se concretizarem?

- AGIR, tenho que parar de pensar e prever e fazer listas de prós e contras e visualizar as consequências, isso me congela, tenho que andar.

- Não, não tenho, quero sair do lugar!!!!

-Amo, verbo intransitivo (parafraseando alguém, mas quem?).
- Tô cansada, quero dormir.

Tenho um velho e um moço dentro de mim, às vezes um deles vence, às vezes nenhum:se degladiam até a morte e eu assisto parada, até com prazer...
E então, me mexo quase empurrada pela própria vida, quando já não me resta alternativa...
Essa era e sou eu, por dentro, bem dentro, mas eu estou mudando...fico feliz...

O Velho E O Moço
(Los Hermanos)
Composição: Rodrigo Amarante
Deixo tudo assim
nao me importo em ver
a idade em mim
ouço o que convem
eu gosto é do gasto

sei do incomodo
e ela tem razão
quando vem dizer
que eu preciso sim
de todo o cuidado

e se eu fosse o primeiro
a voltar pra mudar
o que eu fiz
quem então agora eu seria

ahh tanto faz
e o que nao foi nao é
eu sei que ainda vou voltar
mas eu quem será?

deixo tudo assim
nao me acanho em ver
vaidade em mim
eu digo o que condiz
eu gosto é do estrago

sei do escandalo
e eles tem razão
quando vem dizer
que eu nao sei medir
nem tempo e nem medo

e se eu for o primeiro
a prever e poder
desistir do que for da errado

ahhh ora se nao sou eu
quem mais vai decidir
o que é bom pra mim
dispenso a previsão

ahhh se o que eu sou
é tambem o que eu escolhi ser
aceito a condição

vou levando assim
que o acaso é amigo
do meu coração
quando falo comigo
quando eu sei ouvir

quarta-feira, agosto 08, 2007

Profecia anunciada...

Como se evita um caminho a vida inteira e se acaba parando justamente nele??? Essa é a pergunta que me tenho feito todos os dias em meio a um bilhão de pensamentos e emoções, coisas que há anos atrás decidi não viver e estou vivendo agora, sem dizer não, aliás, digo não, mas um não dentro de mim que ninguém ouve, que não expresso, estou parada nesse lugar...
Explico: quando eu era adolescente, minha mãe me alertou acerca do perigo de um certo tipo de relacionamento, mas como toda menina de 18 anos dona da razão e da vida, eu achava que tinha a minha vida completamente sob controle e disse, que bobagem, isso não vai acontecer comigo, pois sei exatamente o que quero e o exemplo que minha mãe me deu de pessoas que tinham vivido uma história semelhante era tão infeliz, tão triste que me era impossível me ver no lugar deles na época, com toda a vida explodindo dentro de mim e o "controle" que eu dizia ter da situação.
O fato é que hoje a profecia ainda não se concretizou completamente, mas eu continuo seguindo pelo caminho que mais cedo ou mais tarde vai me levar a ela. Como Édipo, aquele da tragédia de Sófocles, que matou o pai e casou com a mãe mesmo tentando evitar esse destino, por mais que fuja (será?), acabo parando de volta nesse lugar e penso, penso maneiras de parar, de dizer e consumo meu dia em pensamentos, sem concretizar nada, sem mudar a realidade.
E continuo vivendo a minha profecia anunciada, como se não pudesse escapar dela, como se eu não tivesse alternativa.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Sinto, logo existo.

Não estou em um dos meus melhores dias.

Cheguei em casa, tinha sopa e torradas (de pão de ontem). Ia até pegar uma, mas deixei pra depois.

Papai chegou e mamãe também. Conversei um pouco com ela conversas de coração (apaixonado). Depois ela saiu do quarto e eu chorei (chorei demais...lá lá lá).

O fato é que não estou num dos meus melhores dias. Porem, sei que isso não tem mais tanto pesar. Preocupo-me com isso, pois se fosse em outras épocas estaria bem pior. Será que estou bem? Bom, se sim se não, não deixa de ser um dia ruim.

Passei o dia com os olhos enchendo e desenchendo de água, ou melhor, lagrimas. Nisto pensava: Deus eu não quero chorar aqui. Em meio a meias lagrimas, ou lágrimas engolidas (olhos engolem lagrimas? O meu sim!) a garganta apertava e atenção ia embora. Lembrava da noite de ontem, do constrangimento.

Lembrava que não temos o direito de poupar as pessoas de suas dores. Porque haveriam de me poupar das dores? Porque ensinar a evitar as dores em vez de ensinar a viver as dores?

Lembrava de hipocrisia, de neurose, de chatices. Lembrava de máscaras, de autenticidade, de explicações. Lembrava que fiquei calada, que quis chorar e que não queria voltar pra casa.

Lembrava que ele não tem culpa, mas que eu bem que gostaria de puni-lo para atingir quem de fato me feriu. E será que vai adiantar? Correrei o risco de perder o meu amor. E será que é meu amor? E se for? E se não for? E se for, mas não for pra agora?

Lembrei do jantar de amanhã. Pensei que não quero ir. Aff... Pra quê aturar isso? E porque não aturar? Será que sou tão coitadinha assim? E será que preciso pensar que sou coitadinha pra me convencer de que devo ir? Afinal, o que devo fazer? Aff... alguém responde!

Pensei em casamento, em sogra, em cunhados. Lembrei da minha TPM e da minha amiga saudosista. Pensei que fico bem menos tolerante quando estou de TPM. Este mês então meus seios quase explodiram de tão estressada que eu estava. Pensei em possíveis estrias. Lembrei de hidratante e da minha idade. Pensei em trabalho, em viagem e em pessoas.

Uma vez pensei que pobreza tornava as pessoas mais humildes. Ontem pensei que não há lógica em punir os outros por condições financeiras restritas. Diga-se de passagem, escolhidas. Escolheu ser pobre? Azar! Não falo de injustiça, falo de escolha.

Senti-me burra hoje. Desinformada. Tem gente que já leu tanto. Eu li tão pouco. Queria ter lido mais. Quero ler mais. Lembrei do aniversario de um ano e da mesa de docinhos. Lembrei da moça desesperada que enchia chapeuzinhos com doces e lembrancinhas pra levar pra casa. Lembrei que fiquei irritada. Lembrei que me irrito com o que me identifico. Que ódio!
Penso no meu pai e no meu irmão e penso que penso em muitas coisas, mas é rápido demais, não dá pra escrever tudo. Pensei numa conversa que tive na cozinha com meu querido irmãozinho. Falávamos de felicidade. Acreditem: eu falava pelos cotovelos na tentativa de uma aproximação. Nisto eu me dava. E no final das contas ele disse: - ta vendo como tu tem necessidade de falar... quando tu fizer analise tu vai falar pra caramba. “Baralho”! Que merda de analise! Só queria me aproximar, posso? Lembro-me da culpa que sinto por ele estar do meu lado e eu não conhecê-lo. Ele, aqui, vendo televisão de cueca de pernalonga.

E eu aqui, de chambre, escrevendo coisas para aliviar a dor.

E continuo achando que viver é melhor que evitar a dor.

Ana

sábado, julho 21, 2007

- ?

- Sim.

- ?

- Sim.

- ?

- Sim, mas nem tanto assim.

- ?

- Não.

- ?

- Não! Rsrsrs...

- ?

- Sim, um pouco.

- ?

- Não tenho certeza.

- ?

- Sim... Mas vai com calma... Rsrs...

- ?

- Ah... Também, né?

- !

- Rsrsrs...

- ...

- Pensei nisso, mas...

- ?

- Certeza?

- ...

- Hum...

- ...

- Rsrs...

- ...

- Pára! Pára!

- ?

- Vem vindo alguém!

- ???

- Não. Não.

- ...

- Eu não consigo...

- ...

- Não, melhor não.

- ...

- Não, eu quero sair daqui, agora!

- ...

- Eu não consigo, não já disse?

- ?

- Não, vamos.

- =(


Sujeito Aprazado

quinta-feira, julho 19, 2007

ADAGGA!!!!!!!!!

querido, expresse esse momento da tragédia da tam em nosso nome!

beijosssssss

Ana

terça-feira, julho 17, 2007

Égua doido!

Conversando eu e minha irmã com a minha mãe, perguntávamos o que era necessário para uma relação duradoura. Ela dizia que era necessário que os dois se negassem para que a relação não virasse competição. Dizia que o casal precisaria andar junto, lado a lado e não um na frente do outro.

Pergunto-me se isso é possível.

Agora penso que é necessário haver morte. Se os dois estiverem vivos demais não se suportarão.

Ta! Mas até que ponto isso é verdade? Eita... nada sei sobre relacionamento.

Tá! Tudo bem eu morro. Eu cedo e eu me nego...mas espera aí, considerar suas verdades como minhas verdades ou, pior, como verdades absolutas??? Quê isso???

Terei que me adequar a jogos de moralidade e máscaras de boa índole???? Que merda de hipocrisia é essa???

Ela quebra qualquer verdade e a revolta ressuscita o mais morto dos mortos. O morto levanta, percebe que não estava morto, que não se negava, mas que se fingia de morto! Ou seja, o cara ta mais vivo que nunca, se mutilando num teatro que exige encenação 24h por dia.

Égua doido! Quero a morte, mas não quero a hipocrisia.

Ana

quinta-feira, julho 12, 2007

Sobre elefantes, ratos, chavez e buracos de fechadura

O Brasil é o país do elefante americano, portanto podemos dizer que temos um elefante brasileiro. A principal diferença entre os elefantes asiáticos e os africanos é que no segundo o tamanho das orelhas é bem maior. A diferença entre eles e o elefante brasileiro é que o nosso nunca chega à idade adulta, nunca aprende as mesmas lições e nunca perde o velho medo que tem de ratos.

Eu assisti recentemente uma palestra sobre energia limpa. Aprendi muito sobre iniciativas interessantes e até viáveis dependendo de onde se queira aplicar, como o uso de painéis solares em comunidades muito distantes, a exemplo das que se localizam no interior da floresta amazônica, cuja distância inviabiliza a construção de grandes malhas energéticas. Porém, mais interessante ainda do que isso foi aprender sobre o potencial energético do álcool produzido aqui, no Maranhão e no Brasil.

Apesar de o nosso país já possuir uma extensa fronteira agrícola ocupada por rebanhos de todos os tipos e culturas de todas as ordens, ainda nos resta um enorme pedaço de terra agricultável sem que com isso tenhamos de assistir o avanço do desmatamento sobre a floresta amazônica e a destruição de biomas importantes como são o pantanal e a caatinga. Vale lembrar, no entanto, que eu não sou ingênuo a ponto acreditar totalmente que não existiriam devastações e crescimento desordenado dessas fronteiras sobre áreas de preservação, mas me pareceu que isso depende mais de uma rígida política de fiscalização (que ainda não temos!) do que do simples fato de não fazer. Somando a isso temos também o já conhecido clima favorável e alguma regularidade das chuvas.

Desde quando eu me entendo por gente que eu vejo ou ouço em algum lugar que o Brasil é o país do futuro. Houve uma época em que eu defendia isso como quem defende a própria religião, com muita razão inclusive, tendo em vista o país de grandezas em que nos tornamos. Éramos (ainda somos) uma potência agrícola em expansão, tínhamos uma indústria crescente e as exportações registravam cifras cada vez maiores. O auge do meu entusiasmo se deu com as disputas na Organização Mundial de Comércio. Senti que estávamos ganhando espaço, respeito – enfim, éramos ouvidos. Lutávamos contra as super-subsidiadas laranjas americanas, contra o super-protegido mercado agrícola francês, pelo reconhecimento da nossa carne como sendo de qualidade aceitável e muitos outros mais. Porém, o momento que mais impulsionou meu coração brasileiro foi quando, por conta de uma disputa em que a nossa Embraer desbancava a canadense Bombardier na venda de aviões de menor porte, o governo do Canadá boicotou a nossa carne alegando que tínhamos casos de “mal da vaca louca”, fazendo com que os Estados Unidos e México também realizassem o boicote, graças a um tratado existente entre eles, o NAFTA. Aquilo me tomou de ódio e ao mesmo tempo de paixão. O resultado é que o governo de lá foi obrigado a admitir publicamente que estávamos livres de qualquer mal em nossa carne, inclusive o “mal da vaca louca”. Foi um dos poucos momentos na minha história em que me senti representado dignamente como brasileiro. Além desses, muitos outros motivos contribuíram para que a minha brasilidade se tornasse algo concreto e presente na minha vida.

Mas os tempos são outros, as idéias são outras e o meu sentimento nacionalista agora está sentado como quem espera alguém que demora muito a chegar. O fato de ser uma 10ª economia mundial dirigida por pessoas comprometidas com o umbigo faz de mim um visionário frustrado. Revoltado, diria, ávido por iniciar imediatamente a caça aos ratos, os mesmos que inibem os nossos ingênuos elefantes.

A população, passiva enquanto o problema não chegar de fato ao seu quintal, já está calejada de informações sobre a situação política e econômica do Brasil. A imprensa, acredito, tem até cumprido bem o seu papel de noticiar a crise de identidade nacional, adentrando nos fatos e denunciando até o que é visto só pelo buraco da fechadura. Formulamos críticas, opiniões e tudo mais que possa ser discutido com o vigia do serviço, mas o que de mais palpável estamos fazendo? Necas! Temos ciência das tarifas telefônicas, das taxas de juros, da crise aérea e mesmo assim continuamos aqui (inclusive eu), sentados no sofá da sala e no banco do carro, confortáveis em nossa própria ignorância. E como se não bastasse, ainda tem as crises com os vizinhos. Nos tornamos reféns de um gás socialista extraído por instalações que pertenciam à Petrobras e viramos alvo de chacotas de um Fidel sul-americano de comportamento xiita. A propósito, que moral tem um corpo político como o nosso, mais especificamente o Senado, para enviar uma carta repudiando um ditador legalmente constituído por ter fechado a maior emissora de TV do seu país? Chavez, sim, tem todos os colhões para dizer que temos um bando de papagaios democráticos e que o Mercosul tem apenas três meses para aceitá-lo como parceiro, caso contrário, dane-se!

São muitos problemas a serem enfrentados, muitos ratos a serem dizimados, mas todos passíveis de uma derrota justa. Preocupa-me mesmo é o futuro: seremos uma nação de elefantes em análise. Preparem-se, psicólogos!

Um abraço.



Adagga
Passei muito tempo de minha vida vangloriando-me pelo dom da tolerância, o qual acabava desembocando em muita paciência e uma inevitável popularidade.
Hoje em dia me irrito com pouco, inclusive comigo mesma. Meu pavio acabou. A bomba explodiu. E mais uma vez, me preocupo com o tempo.
Se hoje me irrito com tão pouco, tolero menos ainda, o que será de mim em poucos anos... Também irrito-me ao pensar nisso. Danem-se os próximos anos e salvem-se todos que tiverem ao meu redor.
Segundos depois, penso em não desagradar ninguém... A minha vaidade agredida pela ameaça de perda de popularidade. Para o inferno a vaidade, para o inferno os desagradados...
Estou irritada e ponto!
Irrito-me com o mal humor, inclusive o meu!
Irrito-me com a mediocridade...
Irrita-me a falta de criatividade e inspriração... Elas estão me irritando neste exato momento. Mas hoje não quero nem morrer...
Ando irritada demais até para pensar em morrer...
São gritos...
Burrice demais...
vozes demais...
Diferenças...
Ignorância...
Cansei!
Amanhã eu termino....

quarta-feira, julho 11, 2007

O que espero:

Dos bons: incoerência;
Dos ruins: compreensão;
Dos caídos: socorro;
Dos completos: arrogância;
Dos que buscam: encontrá-los;
Dos revoltados: agressão;
Dos mentirosos: mutilação;
Dos que levantam bandeiras: que as sustentem em pé;
Do papa: desculpas (mais uma vez, desculpas).

De mim: qualquer coisa, com a devida hipocrisia;
De todos: miséria;
De um: a vida.

Ana

segunda-feira, julho 09, 2007

E saber que o que tenho de mais precioso é minha própria vida e que ela a mim mesmo não pertence, me faz pensar que buscar o seu real criador e Senhor é de fato o sentido de mim vida. Não o chamo possuidor, me parece abusivo e imposto. Mas o chamo Senhor. E não faço questão de explicar o sentido da palavra, o chamo Senhor e ponto. Não é imposto, mas é condição e digo condição de vida. Da minha vida.

Fora isso existe prazer, existe realização e existe qualidade de vida. Mas fora disso, ou melhor, Dele, não há sentido.

E por isso, peço tuas águas, Senhor. Tuas águas profundas. Águas que invadam meu coração, espírito e matéria. Águas nas quais eu possa mergulhar.

Nelas encontro o que necessito, nelas me torno completa e nelas deixou de ser miserável, insaciável, insatisfeita.

Tu sabes, mais que eu mesmo, a minha condição de vida. Mais que de existência... de vida.

Falo de mim.

O Cordeiro é digno.

quinta-feira, julho 05, 2007

Pequena Menina


Angústia, medo, angústia, dor, angústia, culpa, angústia, ela se jogou.

Se tivesse falado, diria: "Quero colo, vou fugir de casa, posso durmir aqui, com vocês. Estou com medo..."

Aos 16 anos ela se jogou da janela do 11º andar, linda, meiga, confiante, e no auge de seu esplendor.

Jovem, até então não teria feito nada diferente que qualquer um de sua idade. Curtia, brincava, tinha sede de aventuras e novidades.
Se não fosse por um descuido da sanidade, que por alguns segundos deixou que a outra (insanidade), se instalasse. E esta outra, a louca, faz e traz, estragos sem volta. A sanidade quando vê, já não encontra saída. Resta-lhe apenas o ultimo suspiro.

A vida é voluvel, todos sabem. E se não for, já é morte.


Você espera ler mais alguma coisa? Sim? Que pena, esse texto acabou assim. Pela metade também se chega ao fim!


Em Memória da Pequena Menina.


terça-feira, julho 03, 2007

Musica e vida.


Canta-se:


"Não se afobe, não. Que nada é pra já. O amor não tem pressa. Ele pode esperar em silêncio..."


Para todos aqueles que procuram seus amores loucamente ao longo dos dias.


"Ah, esse cara tem me consumido..."


Para todas as mulheres que sentem-se usadas pelos homens.


"Ainda é cedo amor. Mal começaste a conhecer a vida. Já anuncias a hora da partida. Sem saber mesmo o rumo que iras tomar..."


Pra todos os pais que sofrem ao ver seus filhos, "pequenos filhos" partindo.


"Viva todo o seu mundo. Sinta toda liberdade. E quando a hora chegar, volta... O nosso amor está acima das coisas, deste mundo..."


Para os casais que tem que de se separar, e acreditarão no amor acima de tudo.


"Tristeza não tem fim. Felicidade sim..."


Para todos aqueles que querem aproveitar a felicidade enquanto ela esta ali.


"Hoje eu quero a rosa mais linda que houver. Quero a primeira estrela que vier. Para enfeitar a noite do meu bem..."


"Para todas as amantes que ansiosas, esperam suas paixões."


"E eu desejo amar. A todos que eu cruzar. Pelo meu caminho. Como sou feliz. Eu quero ver feliz. Quem andar comigo. Vem..."


Para todos aqueles que acordaram BEM!


"E agora eu ando correndo tanto. Procurando aquele novo lugar. Aquela festa o que me resta. Encontrar alguém legal pra ficar..."


Para todos aqueles que estão solteiros, correndo em busca de um novo amor.


"Por isso eu pergunto. À você no mundo. Se é mais inteligente. O livro ou a sabedoria..."


Para todos aqueles que questionam.


"Um barco sem porto. Sem rumo, sem vela. Cavalo sem sela. Um bicho solto. Um cão sem dono..."


Para todos aqueles que "encontram-se" PERDIDOS...


"Quem sabe o que é ter e perder alguém. Quem sabe o que é ter e perder alguém. Quem sabe o que é ter e perder alguém. Sente a dor que senti. Quem sabe o que é ver quem se quer partir. E não ter pra onde ir..."


Para todos aqueles que sabem o que é perder.


"Canta que é no canto que eu vou chegar. Canta o teu encanto que é pra me encantar. Canta para mim, qualquer coisa assim sobre você..."


Para todos aqueles que sabem. A musica diz tudo que não conseguimos dizer!

terça-feira, junho 26, 2007

Minha rainha

Protegida do meu amor

São tuas todas as palavras

E quaisquer que sejam as sensações

Ditas e sentidas por mim.


Eu tenho um amor que contempla

De todo entregue a ti

Ainda que seja finito enquanto vida

Porém eterno, enquanto palavra houver

E sentimento existir.


Valério
Ana cai das nuvens.

Ana adora sentir, romantizar e experimentar. Aposta no tentar, no sorriso e no inusitado. E, como querendo se justificar, destaca que mantém limites e caretices. Crer que a ausência de certos procederes não lhe conduz a liberdade. Como mesmo diz, ela engana ou pensa que engana. Quem a vê a considera calma, tranqüila, meiga e sensível. Quem passa a conhecê-la, não consegue conte-la em adjetivos e prendê-la em fórmulas de boa moça. Ela expõem o que tem de pior, lembra que esconde sempre algo bem pior e se mostra como quem tem a essência divina. Pra completar, deixa bem claro que isso não a torna diferente, pois a essência é humana, inerente.

No entanto Ana tem uma coisa que não sabe de onde vem. Ela pensa inclusive que todos possuem essa coisa, mas não sabem percebê-la, usufruí-la. Ana enjoa. Impressionante! Ela enjoa! Enjoa os amigos, a família, o trabalho. Mas isso não causa mais tanta culpa. Isso é que ela não sabe de onde vem! Ela simplesmente aproveita pra se ver livre! Olha que ótimo: Ana diz que não tem filhos e nem marido, ou seja, não precisa abandoná-los e nem se separar! Ela acha isso "ma-ga-vi-lho-so"! Pois diz que se tivesse, não poderia mudar!

Ana abusa palavras rasas, novidades velhas, princípios exaltados e não cumpridos. Abusa suas bolsas e bijuterias. Abusa a especialização. Abusa o novo amor. De repente, não mais que de repente, tudo deixa de ser lindo.

Aí ela lembra de sua natureza caída: podre e rasa. Inerente. E nem faz questão de se sentir gente. Ela é podre. Simplesmente podre. E então, quando percebe isso, deixa o enjôo de si mesma e se curte!

Ana

sexta-feira, junho 22, 2007

Lembrei das nuvens.


Tinha esquecido do toque que estremece, do que beijo que esquecemos que estamos beijando, do sonho de construir uma vida a dois, do brilho no olhar, do mergulhar no olhar, do medo de perder, dos cheiros, do sorriso inesquecível, do frio na barriga, da dúvida, do medo... do medo de amar.

Tinha esquecido do chorar pelo medo de perder. Do medo de não ser da vontade de Deus, ainda que eu tenha a certeza de que com isso nada posso fazer.

Tinha esquecido dos sonhos de preparar um jantar, de levar um sonho de valsa, de passar pra dar um beijo.

Tinha esquecido do cuidar, da saudade, do elo, da vivacidade, da coragem, da leveza.

Tinha esquecido das nuvens.
Ana

segunda-feira, junho 18, 2007

Sem título

Sou Adagga: ludovicence, maranhense, brasileiro, ora situação, ora oposição, ora nada. Se me perguntam sobre Sarney, digo que o respeito, que o aceitaria como parceiro de carteado e quem sabe colega de um vinho mais caro, mas que dificilmente o teria como exemplo, para não dizer “nunca”. Se me perguntam sobre Jackson, digo que já pareceu melhor, mas que hoje não sei diferir quais são homens e quais são porcos.

Eu vejo a minha cidade, vejo as pessoas, vejo o trânsito e vejo ao mesmo tempo nada. Uma cidade que não está preparada para crescer, como também é o meu país e o meu salário. Ao contrário, meu Estado apenas deseja manter-se no mesmo lugar, estando preparado ou não para o que chamam de “crescer”.

Em que resultará o Programa de Aceleração do Crescimento para o Maranhão? Que significado prático terá para minha vizinha frustrada que se queixa dos gastos com manutenção do sempre prejudicado carro que vive entrando e saindo dos buracos do Vinhais?

Opa, calma! Mas o quê que é o Brasil mesmo? Ah, lembrei, o Brasil é a República das Bananas... E eu achando que ouvi dizer que era um país. Tsc...

Sabe, hoje eu trabalhei bastante, contei umas histórias com a minha chefe, levei meu avô ao médico, desejei ter a minha mulher comigo e agora estou ouvindo FatBoy Slim no último volume. Estou tão cansado, mas tão cansado, que poderia até dizer que sou ludovicence, maranhense, brasileiro, às vezes situação e noutras nem tanto. Ainda bem que ainda me resta alguma consciência do que estou pensando -- não quero passar por louco.

Deus meu dê uma boa noite de sono. Amém.

domingo, junho 10, 2007

Decepção, às vezes fico pensando o que implica essa palavra e a força que existe nela de expectativas frustradas, esperanças e anseios depositadas em alguma coisa ou pessoa e a cobrança e/ou exigência que nela se encontra intrinsecamente impregnada, ocasionando uma certa pressão a quem é imputada a tal decepção... Pressão, sentimento que, particularmente, detesto sentir ou fazer os outros sentirem...
Independente desse significado, o fato é que decepções acontecem, como lidar com ela pra mim é o mais difícil, nem tanto quando envolvem acontecimentos objetivos (profissionalmente falando), mas, principalmente, quando me atingem através de pessoas tão próximas e tão queridas, pessoas de quem esperava apoio e não obtive, esperava consolo e não me acolheu ou esperava simplesmente que estivessem disponíveis e não estavam.
Tenho uma tendência nessas situações a me recolher e tirar a pessoa que me decepcionou da minha vida e reconheço em mim até uma certa impiedade nesses casos, sobrelevando meu sentimento de autopreservação, pois é como se cortasse a pessoa da minha convivência, sem sentimento, sem falta, sem dor, além daquela própria advinda da decepção, mas que depois passa, depois de um tempo esqueço, mas então a pessoa causadora já não faz parte da minha vida e talvez saiu até sem saber porquê me magoou tanto.
Então, me pergunto: será esse um comportamento de quem quer amadurecer no conhecimento do outro e de suas próprias relações ou simplesmente de alguém que tem tanto medo de se machucar e de se expor ou que se acha tão infalível, ao ponto de não mostrar que sofreu e que precisa que o outro enxergue a sua dor. O problema é que isso implica, também, uma demonstração de fragilidade e frustração, o que sempre aliei a cobrança e pressão, sentimentos de que tenho pavor...
Tenho pensado nisso porque acho que as pessoas em nossa vida em algum momento vão nos desapontar e decepcionar e o que acontecerá se não falarmos, se não demandarmos alguma espécie de reflexão sobre esse sofrimento que pode ser justo ou não, baseado ou não na realidade, mas existe e dói profundamente.
Pois o afastamento de todo aquele que causa dor também é o afastamento do amor, da alegria e de todas as pessoas que nos tocam de maneira mais especial e querida, o que, pelo menos pra mim, não é possível, pois amo e amo profundamente, muitas vezes de maneira tão disponível àqueles que me são mais próximos, que por isso me abismo tanto diante de um comportamento que não reflita essa mesma disposição.
Talvez eu tenha que aprender a falar, falar dessa dor e entender que amar pressupõe uma reconstrução desse mesmo amor diariamente, também, através das falhas do outro e do reconhecer esse outro como ser real, não ideal, feito também de dores, alegrias e falhas, tendo que, ao final, decidir se o amor sobrevive a tudo isso ou não e se não, aí é outra história...

Muita Luz. Morgana.

sexta-feira, junho 08, 2007

Sem título.

A minha avó é a senhora das músicas de dor de cotovelo. Não que ela tenha vivido as tristes situações narradas em letras tão infelizes, mas é que ela é, assim como eu, grande admiradora desse gênero musical, por isso nos entendemos muito bem nesse sentido (e em outros também). A propósito, ela e meu avô estão casados há 63 anos.

Bom, vou deixar com vocês uma das músicas apresentadas a mim por ela. Chama-se O Ébrio, de Vicente Celestino. Essa música virou até filme cujo papel principal foi encenado pelo próprio Vicente Celestino, em 1946. Na falta do que mais dizer, deixo também as primeiras partes de um conto que nunca terminei, chamado Juvenal Pinto Pessoa (às vezes eu chamo de “Juvenal, o Pinto em Pessoa” – que idiotice!).

Um abraço e um beijo, principalmente para Billie the Jean e AnaBela.


O ÉBRIO – Vicente Celestino

1ª parte – narrada

Nasci artista. Fui cantor. Ainda pequeno levaram-me para uma escola de canto. O meu nome, pouco a pouco, foi crescendo, crescendo, até chegar aos píncaros da glória. Durante a minha trajetória artística tive vários amores. Todas elas juravam-me amor eterno, mas acabavam fugindo com outros, deixando-me a saudade e a dor. Uma noite, quando eu cantava a Tosca, uma jovem da primeira fila atirou-me uma flor. Essa jovem veio a ser mais tarde a minha legítima esposa. Um dia, quando eu cantava A Força do Destino, ela fugiu com outro, deixando-me uma carta, e na carta um adeus. Não pude mais cantar. Mais tarde, lembrei-me que ela, contudo, me havia deixado um pedacinho de seu eu: a minha filha. Uma pequenina boneca de carne que eu tinha o dever de educar. Voltei novamente a cantar mas só por amor à minha filha. Eduquei-a, fez-se moça, bonita... E uma noite, quando eu cantava ainda mais uma vez A Força do Destino, Deus levou a minha filha para nunca mais voltar. Daí pra cá eu fui caindo, caindo, passando dos teatros de alta categoria para os de mais baixa. Até que acabei por levar uma vaia cantando em pleno picadeiro de um circo. Nunca mais fui nada. Nada, não! Hoje, porque bebo a fim de esquecer a minha desventura, chamam-me ébrio. Ébrio...


2ª parte – cantada

Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer
Aquela ingrata que eu amava e que me abandonou
Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer
Não tenho lar e nem parentes, tudo terminou
Só nas tabernas é que encontro meu abrigo
Cada colega de infortúnio é um grande amigo
Que embora tenham como eu seus sofrimentos
Me aconcelham e aliviam o meu tormento
Já fui feliz e recebido com nobreza até
Nadava em ouro e tinha alcova de cetim
E a cada passo um grande amigo que depunha fé
E nos parentes... confiava, sim!
E hoje ao ver-me na miséria tudo vejo então
O falso lar que amava e que a chorar deixei
Cada parente, cada amigo, era um ladrão
Me abandonaram e roubaram o que amei
Falsos amigos, eu vos peço, imploro a chorar
Quando eu morrer, à minha campa nenhuma inscrição
Deixai que os vermes pouco a pouco venham terminar
Este ébrio triste e este triste coração
Quero somente que na campa em que eu repousar
Os ébrios loucos como eu venham depositar
Os seus segredos ao meu derradeiro abrigo
E suas lágrimas de dor ao peito amigo



JUVENAL PINTO PESSOA
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O DRAMA

Juvenal Pinto Pessoa decidiu que deixaria a mulher alegando abandono sentimental. Sendo assim, tomaria as deixas de uma vida embriagada e julgava mais que adequada a companhia de mulheres sem propósitos familiares e sentimentos impressos em cédulas de Real, pois ali encontraria o refúgio que perdera na ausência da amada, dizia em pensamento.

Convocou então os dois principais amigos para solenemente comunicar a decisão:

- De amanhã não passa! – disse o corajoso. E brindaram todos numa só voz.

Pode-se dizer que realmente se tratava de um corajoso. Juvenal era daqueles que tremiam frente um sorriso mal intencionado de uma que não fosse a digníssima sua mulher. Tremia e temia, pois acreditava cegamente que ela possuía o olho que tudo via, o olfato que tudo sentia e mais ainda toda sorte de paranormalidades capazes de detectar a mais inocente das malícias imaginadas nos mais íntimos dos íntimos pensamentos. Fora isso, ele era completamente apaixonado, ciente de que encontrara, finalmente, a mulher mais próxima daquilo que chamam de “mulher da minha vida”.

O problema é que as coisas desandaram. Já não havia mais os encontros habituais, o bem humorado tornou-se profundamente desconfiado e tudo mais que antes funcionava perfeitamente passou a envergonhar o precioso mérito outrora ostentado pelo jovem Juvenal Pinto Pessoa. O homem fez até promessa, jurou a quem no céu quisesse ouvir que faria cumprir seus dons religiosos sem tropeçar nem mesmo diante da mais angelical prevaricação, mas ainda assim o dito cujo não correspondeu. Infelizmente não se tratava de mandingas ou coisas afins, o coitado era um escravo dos seus sentimentos: se o coração batia descompassado, descompassado também seria o seu membro-irmão. Lamentou-se.

E foi assim, cabisbaixo em todos os sentidos, porém decidido, que no dia seguinte o rapaz foi até a causadora anunciar-lhe a decisão.


PHARMÁCIA BAR

- Ela me disse que tem ido estudar com uma amiga – disse Juvenal.
- Mas aos sábados e domingos durante o dia inteiro?! – perguntou desconfiado o amigo Teotônio.
- Sim, o dia inteiro – respondeu Juvenal – mal consigo vê-la à noite.

Algumas coisas óbvias e que também são dolorosas exigem um momento de silêncio antes de serem ditas. Foi quando todos elevaram os copos de cerveja até a boca e em seguida espalharam os olhares pelo ambiente por alguns instantes.

- E há quanto tempo que vocês não se vêem direito? – interrogou Santiago.
- Isso já tem umas cinco semanas. Fora isso, ela disse que me tornei uma pessoa chata pelas minhas cobranças diárias, que não tem tempo pra mim e coisa e tal.
- Ainda disse isso?! – perguntou Teotônio mais desconfiado do que antes.
- Pois é – disse o injustiçado Juvenal.
- Olha, meu querido, isso pra mim não é namoro. A minha mulher quer estar sempre comigo, não arranja saídas demoradas, situações impossíveis... Veja bem! – recomendou Teotônio.
- Eu sei, por isso estou aqui com vocês.
- Mas o que tu pretendes fazer em relação a isso? – perguntou Santiago.
- Estou sofrendo, desanimado. Bom, eu vou terminar tudo isso amanhã – disse o triste rapaz, levantando o copo que segurava propondo um brinde sofrido à decisão, brinde este compartilhado por todos – De amanhã não passa!

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Adagga

terça-feira, junho 05, 2007

Momento desabafo

Sinceramente não sei que "deus" é esse que inventaram. Assemelha-se ao Gênio da Lâmpada, onde as esfregadas representam as fortes “orações” dos que crêem no próprio poder. No poder que ao ser intensificado através de rituais, meras formas e formulas de se orar, fazem com que o gênio saia para atender os dez mil desejos de seus “achadores”. Como se Deus pudesse ser achado e como se pudesse caber dentro de uma lâmpada.

A destacar que a historia da lâmpada do Aladim é bem menos presunçosa, pois só oportuniza a realização de três desejos, azar de quem não aproveitá-los. Já este novo deus foi criado para atender os anseios de uma vida melhor. Melhor??? Melhor não, perfeita.

Aí fica a frase: Deus é Deus.

Soberano, não cabe dentro de nossos rótulos, “verdades”, religiosidade, costumes, valores ou qualquer outra lâmpada que tentemos colocá-lo.

Ana

sexta-feira, maio 11, 2007

Jornal Nacional

Entrada – Papa
Prato principal – Papa
Especialidade da casa – Papa
Sobremesa – Papa
Saideira – Papa*

*Qualquer semelhança é mera coincidência.

Didieri



terça-feira, maio 08, 2007

O velho repente

Fez-se de repente
Mente que fez gente
Ri, chora e faz que sente
Assim diz o velho repente
Deita-se num chão decrescente
Admira, contesta, rima facilmente
O caminho da alegria no passo descontente

De repente é gente que sente facilmente
Um descontente calor decrescente

Que faz o caminho vazio da rima tão de repente
Contesta chorão no chão descontente
Dizendo bem alto que foi decrescente
Mete-se a besta dizendo que sente
Admira e contesta o velho repente
Faz que se faz assim facilmente
Ri e mente fingindo ser gente.


M.M

Carta

Amigo,

Achando-me por esses dias em ares de melancolia e reflexão, resolvi escrever cartas para contar ocorridos da minha vida e outras coisas mais. É quase uma necessidade patológica de qualquer pessoa lançar mão de toda sorte infortúnios e calamidades pessoais nos braços de uma alma compreensiva e atenciosa como é a tua. Além mais, tu tens a prática da minha dor.

É certo que não há qualquer motivo aparente que justifique quaisquer palavras sofridas. Nem mesmo há um sofrimento em questão. Na verdade, e não menos importante, trata-se apenas de uma solidão mal curada.

Tenho passado os dias a meditar pessoas desconhecidas e seus cotidianos, a fim de fazer a mente ignorar o tempo. Ignorar-me, inclusive, tornou-se um propósito diário, embora nem sempre alcançado.

Eu vejo um senhor diariamente quando estou a caminho do ofício, ali pela Camboa. Ele tem uma pequena venda aparentemente muito pobre, que se resume a uma janela e algumas latas de leite em prateleiras quase vazias. Na ida, lá pelas duas da tarde, quando o calor é ainda maior por conta desses meses chuvosos em São Luís, ele quase sempre está a almoçar e algumas vezes até gesticula como se estivesse oferecendo um pouco da sua refeição. Eu gesticulo de volta agradecendo a gentileza, mas sem aceitá-la.

À tardinha, na volta, eu posso vê-lo com mais cautela. Ele fica sentado num banco de concreto (daqueles de pracinhas) que fica defronte à sua venda. Fica ali, olhando, olhando, olhando. Mais pensa do que olha, acredito, pois tenho a impressão de que ele sempre avista o mesmo lugar.

Nunca o vi com amigo, mulher, criança ou animal, o que atraiu mais ainda a minha curiosidade, tendo em vista que há dois anos eu trilho o mesmo caminho. Nunca ouvi a sua voz. Parece-me um senhor muito solitário, carente, conformado – e que sofre de diabetes, dada a aparência. É estranho, mas achei nele um conforto para as minhas reflexões. Se pudesse eu passaria longos dias observando-o e imaginando quais pensamentos ocupariam aquele olhar distraído, pesado, sem com isso trocar palavra alguma, a custo de limitar minha imaginação.

Ali, nas idas e vindas rotineiras, achei algum afago para a minha solidão.
Adagga

sexta-feira, maio 04, 2007

Compromisso???

Sempre pensei que as pessoas fossem passageiras em minha vida, que meu destino era ser só e, por causa disso, somente poderia planejar minha vida para ser sozinha, esperando unicamente o que eu poderia viver sozinha, o que eu não dependeria de ninguém para viver: morar sozinha, fazer mestrado, doutorado, morar fora do país, aprender uma outra língua, tudo sozinha, porque tinha a convincção de que, na minha vida, todas as pessoas estariam apenas de passagem, nunca viriam para ficar, caminhariam comigo por um tempo e depois partiriam para outro destino. Isso era o que eu pensava, até bem pouco tempo...
Porém, alguns fatos foram mudando tais pensamentos. Comecei a observar alguns homens com os quais já me relacionei e que se encontram, atualmente, casados e/ou com filhos, com suas esposas que permanecem em suas vidas em todos os momentos: aniversários seus e da família, nascimentos e mortes de entes queridos, ou seja, em eventos ligados à vida e à morte, como se ambos tivessem uma única vida e eu cheguei à simples e óbvia constatação ( não sem gastar algum dinheiro com análise) de que quem não permanece sou eu, quem não parece capaz desse nível de comprometimento sou eu!
Quando falo em "nível de comprometimento", quero dizer essa entrega que torna a vida do outro parte intríseca da minha e percebi que sempre mantive um certo distanciamento das pessoas com as quais me relacionei, como uma distância de segurança necessária entre um carro pequeno e um ônibus, para evitar qualquer colisão, mas por que tenho tanto medo dessa colisão, dessa mistura, por que essa idéia parece tão aterradora para mim?
Pode parecer em uma primeira análise egoísmo puro, mas não é, ou pode ser que seja, mas não o egoísmo no sentido de ausência de solidariedade, pois até me considero uma pessoa bastante solidária, é um egoísmo mais como um medo de me perder, me perder no abismo do outro e nessa infinidade não mais encontrar a mim mesma. Isso parece loucura até mesmo para mim!!
Essa conclusão me assutou bastante, pois percebi que todos os movimentos que eu faço é para ficar sozinha, é para que se concretize o meu medo secreto de viver sozinha, o que, de maneira alguma, eu desejo de forma consciente, mas termino fazendo como uma profecia que, após anunciada, não se sabe se se concretizou porque foi proclamada ou se se concretizaria de qualquer maneira...
Não obstante tudo isso, quero aprender a permanecer na vida do outro...
Mavie.

quarta-feira, maio 02, 2007

Saiu até no jornal de hoje...


Adagga

terça-feira, maio 01, 2007

Uma vez amor

Uma vez ele me disse: “Você não precisa usar desse tom tão provocativo”. Isso tem mais de um ano. Nos conhecemos na sala da Tininha. Entre recitações de poemas e debates fervorosos acerca de temas polêmicos e sempre explorados, meus olhos cruzaram com os seus. Foi o encontro perfeito: coração encontrando coração, lágrima molhando lágrima, dedo tocando lágrima. Minha mão tocou o rosto que sempre quisera tocar. Um ano de conversas-promessas, juras e declarações; um ano de amor impossível. As asas batiam para encontrar-me com ele e de qualquer lugar fazíamos lugar para voar. Nada tinha fim. O definitivo já estava definido. E a estranheza que caracterizava o romance inicial parecia já ter sido vencida.

Donnana

segunda-feira, abril 30, 2007

Verso Mudo

Meus amigos, quanto tempo. O Confessionário ganhou um novo fôlego, fiquei feliz por isso. Novos companheiros serão sempre bem-vindos. Bom, vou deixar um pouco da minha poesia. Um abraço a todos.

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Verso Mudo


Ela me disse que estava cansada
Que não havia mais paixão
Apenas um espelho aborrecido
De reflexo sentido
Espera, dor
E Ilusão.

Mesmo assim ela implorou
Agrediu, cismou.
Ameaçou o meu silêncio
Jurou absurdos
Arrependeu-se de tudo
Chorou.

Mas num momento desistiu
Calou-se entre soluços
Enxugou as lágrimas
Tomou nas mãos as malas
Disse adeus
E partiu.


Valério Beltta

domingo, abril 29, 2007

Para o sábado à noite.

Macasanha.

Hoje eu vou ensinar a fazer Macasanha. Para quem não sabe, Macasanha nada mais é que um mesclado de macarronada com lasanha. Trata-se de uma opção prática, barata, terapêutica e saborosa para quem não está disposto a sair de casa pra comer ou mesmo não tem R$ 18,45 de bobeira pra encomendar um executivo de carne com cebola do China in Box, como eu.
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Depois de um tempo de práticas culinárias eu descobri que cozinhar é uma ciência sentimental e também um sentimento científico. Eu vejo, inclusive, que existe um enorme abismo entre cozinhar e fazer comida. Fazer comida é meio que uma ação mecânica, de movimentos automáticos, monocromático. É uma orquestra regida por um maestro ignorante: a fome. Já cozinhar é diferente. É uma coisa mais poética, apaixonada, paciente. Há mais sensibilidade quando se está de fato cozinhando.

Pois bem. Antes de começar tudo, eu gosto de colocar uma boa música de fundo. Eu associo muito o tipo de música que estou ouvindo com aquilo que estou comendo e quando. Para um sábado à noite solitário como é o de hoje, eu prefiro ouvir um som mais ou menos melancólico, por isso eu acho que começaríamos bem ouvindo algo como Codinome Beija-flor ou Garotos. Na verdade a década de 80 em si nos oferece um bom repertório para um sábado à noite, seja solitário ou não. Se você está acompanhado(a) então eu não sei o que sugerir, pois depende também da companhia. ;-)

Vamos começar com a carne. Eu meço a quantidade de carne moída necessária colocando-a na palma da minha mão. Tem que ser o suficiente pra abraçar a porção sem que eu consiga fechar completamente a mão, como se fosse uma daquelas bolinhas de massagem. Se ela estiver congelada então é bom mergulhá-la numa tigela com água sem colocar no fogo. Em menos de uma hora ela estará pronta para uso. Não use microondas, fica horrível.

Em seguida você espalha a carne pelo prato (prato raso). Para essa quantidade eu uso duas pitadas cheias de sal e uma cheia de tempero-seco. É bom que isso seja feito antes de tudo, pois dá tempo da carne “pegar” o sabor do tempero.

Agora vamos cortar duas cebolas pequenas ou uma cebola grande. Eu prefiro que elas sejam cortadas em rodelas, mas se você não gosta de senti-las então pode cortar em cubinhos. O mesmo vale para os alhos, que são cinco pequenos (daqueles bem magrinhos) ou três grandes. Apenas um tomate é necessário, mas dois não seria uma má idéia, sendo que o corte deve ser em pedaços maiores e feitos de cima para baixo, dividindo-o em mais ou menos cinco pedaços. Ok, vamos pro tacho.

O azeite, quando submetido a altas temperaturas, perde a maioria das suas propriedades benéficas, mas exala um cheiro maravilhoso. Coloque duas colheres de sopa de azeite (eu uso Gallo) para uma colher de sopa de margarina com o fogo alto. Já me disseram que fica bom com manteiga Real, mas eu nunca tentei.

Jogue a cebola e o alho e espere uns minutinhos. Acrescente uma colher de chá de açafrão. O Açafrão é quase obrigatório, pois além de dar um sabor sutil e ser rico em vitamina C, contribui com um perfume inconfundível e tentador. Espere mais um pouco e jogue a carne. Refogue-a bem até que fique fritinha, mexendo sempre.

Em seguida coloque uma xícara de água e deixe a carne cozinhar até a água secar completamente. Acrescente novamente uma xícara de água, o molho de tomate (eu uso meia caixa de pomarola), os tomates cortados e mais uma colher de chá de açafrão. Esta segunda colher de chá de açafrão é para dar uma nova cor ao molho, pois a mistura do amarelo do açafrão com o vermelho do molho de tomate resulta num tom alaranjado bem agradável aos olhos.

Enquanto espera pelo molho, coloque a água do macarrão pra ferver. Adicione uma colher de sopa de sal e uma colher de sopa de óleo. Quando estiver fervendo adicione meio pacote de macarrão do tipo espaguete e mexa com o garfo nos primeiros minutos. Em cerca de dez minutos ele está pronto. Não se esqueça de checar se o molho está bom de sal.

O PRATO

A montagem do prato é bem fácil. Numa forma retangular coloque uma camada de macarrão, uma de queijo mussarela, uma do molho que fizemos e uma de molho branco (pode ser de caixinha). Repita até que a forma esteja preenchida até a borda, de forma que o molho de carne e o molho branco sejam visíveis na cobertura.

Corte alguns cogumelos em rodelas e espalhe na cobertura. Por último acrescente queijo ralado e orégano, deixe no forno por cinco minutos e bom apetite.

OBS: É muito importante que haja uma relação respeitosa entre aquele que cozinha e “aqueles” que servem ao cozinheiro, caso contrário você estará apenas fazendo comida. Leia-se “aqueles” como os temperos, o fogão, a água e tudo mais que contribui para o sucesso da obra.

Um abraço.


Adagga

terça-feira, abril 24, 2007

La vie en rose

Quantas vezes forem necessárias. Nem uma nem duas, apenas quantas vezes forem necessárias. O labirinto aponta para lugar nenhum. A água sobra. O fôlego alcança. A mordaça cai. A mão faz que vai e volta porque foi. Na sombra, pela sombra – o caminho percorrido por aqueles que estão nus. E quanto de tudo ainda resta...
Didieri

domingo, abril 22, 2007

Laetitia

Que gozo mais triste, pobre.
Um gozo assim:
Malquisto, pálido, corrompido
E muito desejado.

Esse prazer inteiramente indolente
Sem mérito
Sem classe, propósito
Absolutamente culpado
Que me cospe a cara
Diz que sou pouca coisa
Que sou várias coisas
E sou nada.

Aprecio um sadismo sentimental
Afinal, que mais alimentaria o prazer
E alguma dor
Senão a própria manifestação do amor?

M.M

sábado, abril 21, 2007

1, 2, 3...

Eu não sei. Estou a ver o canal da Igreja Renascer, ouvindo uma mulher falar sobre “não dar ouvidos ao conselho de Jonadabe, ver apostolicamente, esperar o futuro apostólico”. Então, conecto-me ao vídeo que vi esta tarde – Arnaldo Jabor no Jô, e penso nos processos instaurados contra aquele, alvo de 4 políticos, um deles “casado e bochechudo”. Penso em Lima Barreto. Penso na frase de um escritor ao dizer que “se o escritor for pensar naquilo que vão pensar sobre o que escreve, certamente não escreverá”. Lembro da pastorinha louca. Penso na Polícia Federal que me deixa cada vez mais apaixonada. Então, lembro do Judiciário, lembro de Jabor, lembro da “Pornô Política”. Penso na Coluna Gay no site da Uol. Lembro do discurso “anti-preconceito” sempre engatilhado na boca dos que mais se esforçam para disfarçar o preconceito. Penso na mulher autoritária que se justifica ao explicar que “somente diz a verdade” - lembro de mim mesma. Penso na “sociedade anestesiada” denunciada aos prantos em entrevista com Carla Camurati. Sou embalada por uma canção religiosa de um exército religioso. Sou embalada por uma canção que me incomoda.
Não é desejo meu parar por aqui. Lembro do menino charmoso em sua blusa cor-de-rosa. Lembro do aparente gaguejo quando de suas poucas palavras ao me dar uma informação. Escuto a data para o “Marcha pra Jesus” – 7 de junho. Penso na ex-vizinha religiosa que conseguiu uma plástica às custas do Estado. Penso na incoerência; penso nos filósofos. Em Adriana “esqueço a meta da reta”. Lembro do meu sonho de prender o “universal”. Lembro do MP. Lembro da Polícia. Penso na expressão da “cobra que come o próprio rabo”. Penso na minha aparência. Penso na Justiça Federal. Penso no esmalte vermelho. Lembro da notícia que vazou. Penso no menino que nunca casa. Lembro do Marcelo que nunca quero reencontrar. Penso no vazio. Penso nos discursos. Vazio e discursos = queijo e goiabada, pipoca e guaraná, azeitona e empada e tudo o mais, pois no Brasil, infelizmente, “em se plantando tudo dá”.
Donnana
Quero falar de respeito.
Como diria Chico César: "Repeite meus cabelos brancos!"
Repeite meu cansaço.
Respeite minhas cicatrizes.
Respeite meu desatino.
Respeite meu silêncio.
Respeite minha fala.
Respeite também o meu grito.
Respeite meu querer.
Repeite meu não querer.
Respeite meu egoísmo.
Respeite meus sentimentos.
Repeite meu respeito.
Repeite também a falta dele.
Respeite-me como sou.
Respeite-se como és.
Pese. Pondere. Ouse. Queira. Lute. Mas jamais se esqueça dele, do respeito!
Não lhe peço compreensão.
Não lhe peço que cêda.
Não lhe peço tolerância, tampouco paciência.
Hoje, eu só quero RESPEITO!

Sílvio

Resposta ao feito!

A liberdade de que Ana fala em seu texto me fascina.
A liberdade de querer e não querer. Fazer sem a preocupação de acertar ou não. A certeza do sentir sem medir o quanto e sem a preocupação com a recíproca.
A coragem de andar de asa-delta, de alçar vôo, lançar-se no abismo sem a ceterza do pouso seguro.
Hoje, sinto-me livre novamente, com asas maiores do que antes e uma prudência por vezes incômoda, porém, necessária.

Billie Jean

segunda-feira, abril 09, 2007

MSN _ com cortes, sem correções

Ana diz:
cara, morreu uma galera nessa páscoa
em acidente de transito
Alguém (muito amiga de ana) diz:
q horror!
Ana diz:
pois é
Alguém (muito amiga de ana) diz:
ainda bem q to viva
Ana diz:
sim, continuando e ontem no carro vi ele me olhando pelo retrovisor
Alguém (muito amiga de ana) diz:
homem gosta d ser pisado
pisa pisa pisa
ninguém merece
Alguém (muito amiga de ana) diz:
amiga, n sei como tu tem tanta paciência
eu já tinha desistido
ou colocado ele contra a parede
*
Alguém (muito amiga de ana) acabou de pedir a sua atenção.
*
Alguém (muito amiga de ana) acabou de pedir a sua atenção.


Alguém (muito amiga de ana) diz:
desse jeito vou sair
Ana diz:
oi
deculpa
estava tratando de negócios
Alguém (muito amiga de ana) diz:
ta perdoada
Ana diz:
ei e ai me conta
Alguém (muito amiga de ana) diz:
o q?
Ana diz:
tudo que precisa
alguém (muito amiga de ana) diz:
n tenho nada pra contar
so q to vivendo a minha vida e to amando
Ana diz:
como assim? ate semana passada tu tava vivendo a vida de fulano!
Alguém (muito amiga de ana) diz:
to sendo eu
Ana diz:
o que mudou?
Alguém (muito amiga de ana) diz:
to descobrindo quem eu sou
e to tentando lidar com isso
Ana diz:
ah... e ai? ta assustada?
Alguém (muito amiga de ana) diz:
fiquei no começo
agora é só o q eu quero
Ana diz:
o que?
Alguém (muito amiga de ana) diz:
ser eu
Ana diz:
como assim?
Alguém (muito amiga de ana) diz:
me aceitar
Ana diz:
de que forma?
responde
Alguém (muito amiga de ana) diz:
preciso me conhecer
e to fazendo isso
descobrindo quem sou eu
uma pessoa independente das outras
uma pessoa q n precisa viver o q os outros querem q eu viva

(repare, a amiga de Ana faz analise)

Ana diz:
certo!
o que a pessoa que tu ta descobrindo quer?
Alguém (muito amiga de ana) diz:
ainda to tentando descobrir
amiga, taí um pensamento q me assusta um pouco
tenho medo d descobrir o q quero
sei lá
Ana diz:
qual? adoro pensamentos assustadores!
Alguém (muito amiga de ana) diz:
descobrir q n quero nada do q achava q sempre quis
Ana diz:
eita... que coisa hein
e o que tu queres?
Alguém (muito amiga de ana) diz:
qnd descobrir te conto
rsrs
Ana diz:
fora os dias que quero morrer tenho adorado saber quem eu sou
Alguém (muito amiga de ana) diz:
amiga n tenho a menor vontd d morrer
Ana diz:
ja tive algumas vezes
Ana diz:
acabei de bloquear uma pessoa
Alguém (muito amiga de ana) diz:
quem?
ele?
Ana diz:
uma menina que me suga
uma colega
ela me suga as energias
Alguém (muito amiga de ana) diz:
ah
Ana diz:
me faz travar
to preferindo evitá-la
ate saber como tratá-la
Ana diz:
ei acho que vou saindo
vou colocar uma parte de nossa conversa no confessionário, pode?
Alguém (muito amiga de ana) diz:
ok
Ana diz:
vou colocar as partes mais interessantes
Alguém (muito amiga de ana) diz:
ok
Ana diz:
tu vais ser alguém muito amiga
Alguém (muito amiga de ana) diz:
okbye
Ana diz:
bye

sexta-feira, abril 06, 2007

Myrurgia

Vagina.
Vagina, vagina, vagina.
Vagínico.
Vaginal, vago.
Valsa vaginal.
Vagina.
Vagir, vagar, fingir, invagir, avaginar-se de rir.

Vaginoperitonial, vaginolabial, vagínula, vagina.
Vai, Gina! Vagina causal.
Gina moral.
Valsa a vala vaginal.
Alma vagal.
Vagin’alma.
Meu mal.
M.M

domingo, abril 01, 2007

Um rapidinha

Sobre o amor, ação
Sobre escrever, penso que sei
Sobre sentimentos, sinto
Sobre dúvidas, todas
Sobre certeza, só uma
Sobre o riso, vaidade
Sobre a dor, passageira
Sobre o medo, alarme que pode ser falso
Sobre a vida, vivendo
Sobre o viver, inusitado
Sobre as pessoas pela metade, enfadonhas
Sobre as pessoas quase por inteiro, monstruosas e interessantes
Sobre relacionamentos, indispensáveis
Sobre desistir, nem sempre é desistir
Sobre tentar, todo dia
Sobre a gargalhada presa da minha irmã, irritante
Sobre chás de panela, solidão e contentamento ou tentativa deste
Sobre o ridículo, acontece
Sobre o único, Jesus
Sobre sentido, o único
Sobre hipocrisia, admiti-la
Sobre as palavras, interpretação além delas
Sobre fatos, representações
Sobre escandalizar-se, raso
Sobre identificar-se, olhar-se no escândalo
Sobre pecado, inerente
Sobre o dia-a-dia, prática
Sobre tudo, muito pouco


Ana

terça-feira, março 27, 2007

A Caixa

Não dou títulos
Recebo-os pouco
Meto-me a besta.
Entre palavras
Finjo-me louco.

Nesta Caixa
Preservo as mentiras
D’algumas poesias
Que em lágrimas baixas
Saúdam fantasias.

M.M

segunda-feira, março 19, 2007

Caráter e Ocasião

Cá estou: cabeludo, barbado, gordo, entediado, cansado, sem dinheiro e, o pior, sóbrio. Tem uma bebida ali no canto da sala feita na fazenda do meu pai, que ganhei de presente de natal, mas perdi a coragem de bebê-la desde o dia em que precisei fazer uma fogueira e, na falta do álcool, usei-a sem esperar que teria tanto êxito com o que pretendia. Ninguém topou tomá-la naquela noite.
Na falta do que fazer, vou dissertar sobre coisas.


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As pessoas, quando querem defender umas às outras, acabam esquecendo que todos neste mundo possuem defeitos e qualidades que nos tornam diferentes em vários ou quase todos os aspectos. É claro que, ainda assim, as afinidades (positivas ou negativas) também nos igualam (e nos unem) em certas ocasiões.


Levando em consideração que vivemos num momento em que um grupo maior de pessoas respeita as diferenças existentes naquele meio e que, por mais que haja alguma insatisfação em praticar isso (ou você nunca quis matar alguém?), a maioria dos direitos assegurados a essas pessoas são mantidos entre elas e também pela esfera governamental (de certa forma), eu formulo a seguinte questão: por que garantir os direitos civis, os quais envolvem todos aqueles inerentes a um povo subjugado por um Estado ocidental ou com características ocidentais, ou seja, pela democracia em si, para cidadãos que não se adéquam às regras aceitas e praticadas pela maior parte das pessoas integrantes desse sistema? Melhor dizendo, por que permitir que um jovem com caráter visivelmente corrupto (não usei a palavra “corrompido” porque não acredito que o meio seja determinante na formação do caráter de uma pessoa) seja inserido na sociedade após alguns poucos anos de detenção? Ou que um ladrão/assassino cumpra a maior parte de sua pena em regime semi-aberto e afins?


Infelizmente esses tumores sociais estão cada vez mais presentes e incontroláveis, talvez por conta do crescimento desordenado das cidades, mas acredito que existem apenas duas soluções plausíveis e que de certa forma merecem ser bem avaliadas: 1) descobrir um novo “Novo Mundo”, exterminar a população nativa, estabelecer colônias de exploração para abrigar os nossos criminosos e fazer comércio de matéria-prima para produção de bens de consumo, como computadores e automóveis; 2) mais prática, minha segunda opção sugere menos investimentos em presídios em troca de construções de Centros de Execução e Combate ao Crime – CECCRIM (gostaram?), onde os criminosos julgados por um júri popular seriam submetidos à pena de morte, amputação de membros ou tratamentos alternativos, como paralisia das pernas. Eu, pra falar a verdade, sou adepto da idéia de que “bandido bom é bandido morto”.


É, mas alguém, aquele do primeiro parágrafo e que chamarei de Fulano, levanta a dúvida sobre o direito do Estado de tirar a vida de alguém, argumentando os tais Direitos Humanos. Infelizmente esses “direitos” não são levados em consideração no momento em que o cano do revólver está apontado para a testa da vítima, portanto se não há o aceite e prática em ambos os lados, então considero que de fato eles (os “direitos”) não podem ser aceitos como argumentos.


Mas Fulano é persistente e exige compreensão da minha parte, pois na verdade os infratores são vítimas de uma política social negligente, falta de escolas, saúde e oportunidades de ascensão profissional, dada a incapacidade técnica. Certo, mas segundo o site do Ministério da Educação (http://portal.mec.gov.br/) nós temos 33,2 milhões de alunos matriculados no ensino fundamental, sendo que desse total apenas 3,4 milhões estudam em escolas privadas, o que leva a entender que a educação pública ainda atende a população, mesmo que não seja da forma como gostaríamos que fosse. Além disso, a falta de instrução formal não implica violência e atitudes criminosas. Pobreza também não. Para mim é uma questão de caráter e ocasião.


Sobre o caráter, é como citei acima: não acredito que o meio seja determinante na formação do caráter de uma pessoa. Uma pessoa de boa índole crescida entre os pecadores e que tenha cometido crimes das mais diversas categorias tende a abandonar a prática frente uma oportunidade de mudança. Ao contrário, o sujeito cuja essência corrupta acompanha-o desde o berço dificilmente será outro em sua vida, ainda que a sorte bata à sua porta mais de uma vez.


Em relação ao criminoso de ocasião a minha opinião é mais flexível. Seria injusto, por exemplo, condenar uma pai desesperado por ver a sua filha queixando-se dores por não ter o que comer. Também é preciso repensar a condição dos crimes passionais, pois o ciúme transforma completamente uma pessoa, embora isso não seja justificativa para ceifar a vida de alguém.

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É isso aí, meus amigos, bateu o sono. Se você chegou até aqui, parabéns, vai ganhar um ovo de páscoa do tio Adagga. No mais, um abraço e boa noite.


Adagga

sábado, março 17, 2007

Adoráveis crianças
Adoráveis, e sempre, lembranças
Porque causaram malícias
As tuas verdades
Na verdade feminina que há em mim.

Tenho um cálice
Um segredo a oferecer
Moldado nos vadios costumes
Que aliam a minha cruz
À tua.

Vem, se quiseres
Mas traga o espírito que me fez dúbio
A ode que tens no olhar
A insensatez
E luz.

Pois de fato somos um pálido engano
Espantalhos, bonecas de pano
A sorrir invisíveis lembranças
Fingir uns antigos momentos
E viver adoráveis crianças.

M. M.

quinta-feira, março 15, 2007

O encontro... espero que seja eterno.

A verdade me assombra e me atrai... Às vezes me deixa tão confusa... Acho que às vezes me perco mesmo.
Mas não falo de fatos, mas do que os move. Os fatos são apenas representações distorcidas da verdade, pois com ela estamos desacostumados. Logo, o que é falso parece verdadeiro e o que é verdadeiro perturba.
E quando me perturba fico vejo atraída. Completamente atraída por entendê-la, interpretá-la, conhecê-la.
Mas não falo de coisa pequena, como se fosse contada, falo da coisa que vive. Embora escondida, mas arde. Ai... parece louco, mas sinto o que estou falando.
Lembram, quando eu falei dos esconderijos das pessoas? Pois é, essa é uma verdade, ainda que camuflada, que me atrai. Verdades camufladas por palavras e gestos. Verdades escondidas atrás de mentiras inventadas para diminuir a dor, a frustração, o desamor.
Ou seria a dor, a frustração, o desamor pela falta de conhecimento da verdade? O que não conhecemos nos confunde e por isso nos escondemos do que não sabemos. Criamos coisas que expliquem o que não sabemos.
Envolvemos-nos a essas coisas, nos agarramos a elas, e vivemos cheios de falsas explicações... Entendimentos... Verdades. E vivemos anos sob essas “verdades”, pois se tornam explicações para o que não entendemos. Abandoná-las, então, jamais!
Dependemos delas... Dependemos de mentiras. Que coisa terrível...
Tenho me encontrado com algumas verdades. Ando confusa é claro, não fugiria a regra. Mas me sinto viva!
Tem dia que dói. Mas repito o que disse a uma amiga está semana: só eu posso viver isso e nem que fosse possível, deixaria que outro vivesse.

Ana.

Peço aos outros que apareçam.

quarta-feira, março 07, 2007

Feito!

Sabe o que tem sido primazia? Intensidade.

Não o fazer em si, mas o fazer por inteiro. O fazer por fazer não faz a menor diferença. Importa-me fazer porque preciso fazer. Não necessitando ser regra e muito menos esperado. O que é feito há de ser em si, todo.

E mesmo o não fazer, tem que fazer todo sentido. Intenso como o que é feito. O não fazer parece ainda melhor quando o esperado é que se faça alguma coisa. E mais ainda, quando feito com total desprendimento de ter suprido expectativas. Este com certeza é o melhor não fazer. Que preciosidade! Que liberdade!

Fazer deixa de ser, necessariamente, uma ação e passa a ser uma opção, entende? Ainda que depois haja uma ação. Ou não. Fazer deixa de ser obrigação e passa a ser liberdade... Ah que coisa maravilhosa.

Então, deixa-se de ser resultado. Soma, multiplicação ou subtração de coisas acontecidas ou que estão prestes a acontecer. Passa-se a ser escolha, decisão, convicção.

E o fazer errado? E quem falou em certo? Fala-se em certeza, jamais em certo. O certo fica para os que de si esperam muito ou muito pouco. Impedindo-se assim de correr riscos, passar ridículos, viver fracassos e mesmo alcançar êxito.

Eu quero esperar o que posso dar. O impossível fica pra ser conquistado.


Ana

*beijos a todos.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

SOBRE O NOVO BLOGGER

Senhoritas e Senhoritos

Tive problemas para logar no Confessionário nas semanas anteriores, portanto foi necessário migrar o blog para uma conta no google e criar um email que será o nosso acesso a este recinto. Entendam, não foi uma decisão minha, o google quer integrar os seus serviços, o que obrigatoriamente inclui o Blogger e os seus usuários. O email e a nova senha foi enviada para Billie Jean, assim como os procedimentos necessários caso alguém tenha alguma dúvida. Voltem, estou com saudades!

Um abraço de urso.



Adagga

domingo, fevereiro 11, 2007

"Lágrimas e chuva"

"Lágrimas e chuva molham o vidro da janela, mas ninguém me vê...
O mundo é muito injusto
E eu vou contando os meus problemas que eu quero esquecer...
Será que alguma coisa nisso tudo faz sentido?
A vida é sempre um risco, e eu tenho medo do perigo...
Será que existe...
Alguém no mundo?
Eu vou contando as horas..."


Entrei hoje aqui com a alma sufocada por lágrimas contidas nesta noite chuvosa.
Ao começar a ler os posts me deparei com um que me emocionou especialmente, o de Julianna, em que ela fala do frio e da alegria de se estar vivo, ela me transmitiu um otimismo que quase aplacou minha tristeza.
Gosto muito da chuva, do cheiro, do barulho e do vento frio que normalmente a acompanha. Todavia, hoje a chuva me trouxe uma solidão tão grande que não consigo juntar energias para formar meu arco-íris.
Quero fechar os olhos e torcer para que o dia de amanhã alivie a minha dor e o meu vazio.
Dormirei na certeza da solidão de hoje e na esperança de que ao raiar do dia, ela permaneça ao meu lado. Ao menos assim não me sentirei tão só.

"A solidão é fera
A solidão devora
É amiga das horas
Prima-irmã do tempo
Que faz nossos relógios caminharem lentos
Causando descompasso
No meu coração"



Virgínia Clyde

sábado, fevereiro 10, 2007

Histórias contadas por minha avó

EPISÓDIO DE HOJE: QUEM TEM BOCA VAI À ROMA

A história em questão sucedeu-se no fim do século XIX no município de Dom Pedro, interior do Estado do Maranhão e berço deste que vos fala. Ali vivia uma moça por nome Nenê Estevam, filha do Velho Estevam e da Dona Libânia.

A coitada era muito conhecida por sua feiúra. Falava-se que sua testa ia até metade da altura da cabeça e que havia uma ligeira corcunda na sua silhueta. No rosto, os lábios finos e bicudos e o nariz apontando para baixo pareciam acentuar mais ainda a linha escura formada pelo bigode que herdara da avó materna. Além disso, ela pouco cresceu. Dessa forma, sem muitos detalhes, podemos concluir que a jovem era realmente muito feia.

Mas feiúra não implica necessariamente falta de sorte, então a vida presenteou-a com um pai muito rico que era proprietário de um invejável rebanho bovino e uma tropa de burros. Leia-se que “um invejável rebanho bovino” para aqueles tempos era bem menos que “um invejável rebanho bovino” para os dias de hoje, mas ainda assim invejável. Para completar, não quis o Velho Estevam abusar dos falhos potenciais genéticos e achou por bem encerrar ali mesmo sua linha sucessória.

Na época em que decorre a nossa história um grande circo vindo de Codó chegou à cidade e logo armou tenda. Eram muitos palhaços, animais, malabaristas e outros mais que fizeram a sensação de Dom Pedro por algumas semanas.

O circo em si não nos interessa, mas sim um rapaz que fazia malabares e era a grande atração do espetáculo. O jovem, ninguém sabe como, tomou conhecimento da solitária Nenê Estevam e de tudo mais que era agregado ao seu sobrenome, e não tardou em visita-la. Vestiu-se em todos os aspectos com a mais delicada cordialidade e bateu-lhe à porta sorrindo as melhores intenções. Conversa vai, conversa vem... E logo conquistou a simpatia ingênua do velho criador de gado. Dias depois, marcada a data do casório, disse adeus ao circo que o trouxera até ali e mudou-se para a fazenda dos Estevam.

O outrora malabarista comportava-se como se tivesse crescido entre estrumes e carrapatos. Era um exímio conhecedor da prática da ordenha e manejo de pastos, sem falar que era extremamente zeloso com a higiene dos burros que compunham a tropa do já sogro. Em casa, ele não media carinhos à esposa que esbanjava satisfação com o homem com quem casara. E assim o nosso artista ganhou a confiança de tudo e de todos.

Quando a esmola é grande o cego deve desconfiar, mas o Velho Estevam nem era cego e nem desconfiou, portanto concordou quando o jovem sugeriu que fossem vendidos os bois para que um comércio respeitável fosse montado na cidade. Alegou o moço que fora criado no seio comercial de sua família e conhecia bem as matemáticas do dinheiro, logo fazia certo investir na idéia. Todos aceitaram.

Desfeito o rebanho, iniciaram-se os preparativos para a estruturação do estabelecimento. Propôs o malabarista que fossem ele e a esposa para São Luís a fim de comprar tecidos e outras novidades que poderiam ser vendidas no futuro comércio. O sogro aprovou e até achou mais coerente, visto que se encontrava em idade avançada. Despachou os dois para Codó com toda a renda de “um invejável rebanho bovino” e desejou-lhes uma boa viagem.

O casal tomou alguns burros e seguiu em direção à estação ferroviária que os levariam até a capital maranhense. Chegando lá, demonstrou o esposo grande preocupação com a mulher e achou por bem que a mesma retornasse para casa, recomendando-a que estivesse ali na semana seguinte para ajudar com a carga que havia de trazer. Ela concordou, mas desejou assistir a partida do amado antes de tomar o rumo de casa.

O Velho Estevam fez questão de recepcionar o genro na sua chegada, portanto tratou de vestir uma boa roupa e aguardar o rapaz na estação de trem.

Conforme combinado, na quarta-feira seguinte estavam a esposa e o sogro à espera do malabarista que ficara de voltar de São Luís naquele dia. Os dois olhavam atentamente as pessoas descerem do trem, as bagagens serem retiradas, mas não viam qualquer sinal do bom moço que voluntariamente se prestara a comprar todas as mercadorias e traze-las em total segurança. Concordaram então que um problema ocorrera e seria melhor continuar na cidade esperando o próximo trem que chegaria em dois dias, pois nele certamente viria o rapaz.

Acontece que o grande salvador de Nenê Estevam não chegara nem no próximo trem e nem nos seguintes, causando grande dúvida no velho que lho confiara toda a sua fortuna. Depois de esperar por semanas, concluíram todos que um grande golpe fora ali executado e a família Estevam estava então arruinada.

Dizem os antigos que depois do ocorrido a filha tomou sumiço e nunca mais foi vista. O velho, coitado, perdeu o apetite de todas as coisas e faleceu de fome e tristeza por ter visto sua fortuna ir embora desejando ainda que tivesse uma boa viagem.

Sobre o rapaz, cogita-se que tenha embarcado num navio e tomado rumo desconhecido, visto que naquela época os roteiros eram percorridos via mar.

E assim foi a história de Nenê Estevam, o Velho e o Malabarista, conforme contou a minha avó.


Um abraço.





Adagga