sexta-feira, maio 11, 2007

Jornal Nacional

Entrada – Papa
Prato principal – Papa
Especialidade da casa – Papa
Sobremesa – Papa
Saideira – Papa*

*Qualquer semelhança é mera coincidência.

Didieri



terça-feira, maio 08, 2007

O velho repente

Fez-se de repente
Mente que fez gente
Ri, chora e faz que sente
Assim diz o velho repente
Deita-se num chão decrescente
Admira, contesta, rima facilmente
O caminho da alegria no passo descontente

De repente é gente que sente facilmente
Um descontente calor decrescente

Que faz o caminho vazio da rima tão de repente
Contesta chorão no chão descontente
Dizendo bem alto que foi decrescente
Mete-se a besta dizendo que sente
Admira e contesta o velho repente
Faz que se faz assim facilmente
Ri e mente fingindo ser gente.


M.M

Carta

Amigo,

Achando-me por esses dias em ares de melancolia e reflexão, resolvi escrever cartas para contar ocorridos da minha vida e outras coisas mais. É quase uma necessidade patológica de qualquer pessoa lançar mão de toda sorte infortúnios e calamidades pessoais nos braços de uma alma compreensiva e atenciosa como é a tua. Além mais, tu tens a prática da minha dor.

É certo que não há qualquer motivo aparente que justifique quaisquer palavras sofridas. Nem mesmo há um sofrimento em questão. Na verdade, e não menos importante, trata-se apenas de uma solidão mal curada.

Tenho passado os dias a meditar pessoas desconhecidas e seus cotidianos, a fim de fazer a mente ignorar o tempo. Ignorar-me, inclusive, tornou-se um propósito diário, embora nem sempre alcançado.

Eu vejo um senhor diariamente quando estou a caminho do ofício, ali pela Camboa. Ele tem uma pequena venda aparentemente muito pobre, que se resume a uma janela e algumas latas de leite em prateleiras quase vazias. Na ida, lá pelas duas da tarde, quando o calor é ainda maior por conta desses meses chuvosos em São Luís, ele quase sempre está a almoçar e algumas vezes até gesticula como se estivesse oferecendo um pouco da sua refeição. Eu gesticulo de volta agradecendo a gentileza, mas sem aceitá-la.

À tardinha, na volta, eu posso vê-lo com mais cautela. Ele fica sentado num banco de concreto (daqueles de pracinhas) que fica defronte à sua venda. Fica ali, olhando, olhando, olhando. Mais pensa do que olha, acredito, pois tenho a impressão de que ele sempre avista o mesmo lugar.

Nunca o vi com amigo, mulher, criança ou animal, o que atraiu mais ainda a minha curiosidade, tendo em vista que há dois anos eu trilho o mesmo caminho. Nunca ouvi a sua voz. Parece-me um senhor muito solitário, carente, conformado – e que sofre de diabetes, dada a aparência. É estranho, mas achei nele um conforto para as minhas reflexões. Se pudesse eu passaria longos dias observando-o e imaginando quais pensamentos ocupariam aquele olhar distraído, pesado, sem com isso trocar palavra alguma, a custo de limitar minha imaginação.

Ali, nas idas e vindas rotineiras, achei algum afago para a minha solidão.
Adagga

sexta-feira, maio 04, 2007

Compromisso???

Sempre pensei que as pessoas fossem passageiras em minha vida, que meu destino era ser só e, por causa disso, somente poderia planejar minha vida para ser sozinha, esperando unicamente o que eu poderia viver sozinha, o que eu não dependeria de ninguém para viver: morar sozinha, fazer mestrado, doutorado, morar fora do país, aprender uma outra língua, tudo sozinha, porque tinha a convincção de que, na minha vida, todas as pessoas estariam apenas de passagem, nunca viriam para ficar, caminhariam comigo por um tempo e depois partiriam para outro destino. Isso era o que eu pensava, até bem pouco tempo...
Porém, alguns fatos foram mudando tais pensamentos. Comecei a observar alguns homens com os quais já me relacionei e que se encontram, atualmente, casados e/ou com filhos, com suas esposas que permanecem em suas vidas em todos os momentos: aniversários seus e da família, nascimentos e mortes de entes queridos, ou seja, em eventos ligados à vida e à morte, como se ambos tivessem uma única vida e eu cheguei à simples e óbvia constatação ( não sem gastar algum dinheiro com análise) de que quem não permanece sou eu, quem não parece capaz desse nível de comprometimento sou eu!
Quando falo em "nível de comprometimento", quero dizer essa entrega que torna a vida do outro parte intríseca da minha e percebi que sempre mantive um certo distanciamento das pessoas com as quais me relacionei, como uma distância de segurança necessária entre um carro pequeno e um ônibus, para evitar qualquer colisão, mas por que tenho tanto medo dessa colisão, dessa mistura, por que essa idéia parece tão aterradora para mim?
Pode parecer em uma primeira análise egoísmo puro, mas não é, ou pode ser que seja, mas não o egoísmo no sentido de ausência de solidariedade, pois até me considero uma pessoa bastante solidária, é um egoísmo mais como um medo de me perder, me perder no abismo do outro e nessa infinidade não mais encontrar a mim mesma. Isso parece loucura até mesmo para mim!!
Essa conclusão me assutou bastante, pois percebi que todos os movimentos que eu faço é para ficar sozinha, é para que se concretize o meu medo secreto de viver sozinha, o que, de maneira alguma, eu desejo de forma consciente, mas termino fazendo como uma profecia que, após anunciada, não se sabe se se concretizou porque foi proclamada ou se se concretizaria de qualquer maneira...
Não obstante tudo isso, quero aprender a permanecer na vida do outro...
Mavie.

quarta-feira, maio 02, 2007

Saiu até no jornal de hoje...


Adagga

terça-feira, maio 01, 2007

Uma vez amor

Uma vez ele me disse: “Você não precisa usar desse tom tão provocativo”. Isso tem mais de um ano. Nos conhecemos na sala da Tininha. Entre recitações de poemas e debates fervorosos acerca de temas polêmicos e sempre explorados, meus olhos cruzaram com os seus. Foi o encontro perfeito: coração encontrando coração, lágrima molhando lágrima, dedo tocando lágrima. Minha mão tocou o rosto que sempre quisera tocar. Um ano de conversas-promessas, juras e declarações; um ano de amor impossível. As asas batiam para encontrar-me com ele e de qualquer lugar fazíamos lugar para voar. Nada tinha fim. O definitivo já estava definido. E a estranheza que caracterizava o romance inicial parecia já ter sido vencida.

Donnana