Sempre pensei que as pessoas fossem passageiras em minha vida, que meu destino era ser só e, por causa disso, somente poderia planejar minha vida para ser sozinha, esperando unicamente o que eu poderia viver sozinha, o que eu não dependeria de ninguém para viver: morar sozinha, fazer mestrado, doutorado, morar fora do país, aprender uma outra língua, tudo sozinha, porque tinha a convincção de que, na minha vida, todas as pessoas estariam apenas de passagem, nunca viriam para ficar, caminhariam comigo por um tempo e depois partiriam para outro destino. Isso era o que eu pensava, até bem pouco tempo...
Porém, alguns fatos foram mudando tais pensamentos. Comecei a observar alguns homens com os quais já me relacionei e que se encontram, atualmente, casados e/ou com filhos, com suas esposas que permanecem em suas vidas em todos os momentos: aniversários seus e da família, nascimentos e mortes de entes queridos, ou seja, em eventos ligados à vida e à morte, como se ambos tivessem uma única vida e eu cheguei à simples e óbvia constatação ( não sem gastar algum dinheiro com análise) de que quem não permanece sou eu, quem não parece capaz desse nível de comprometimento sou eu!
Quando falo em "nível de comprometimento", quero dizer essa entrega que torna a vida do outro parte intríseca da minha e percebi que sempre mantive um certo distanciamento das pessoas com as quais me relacionei, como uma distância de segurança necessária entre um carro pequeno e um ônibus, para evitar qualquer colisão, mas por que tenho tanto medo dessa colisão, dessa mistura, por que essa idéia parece tão aterradora para mim?
Pode parecer em uma primeira análise egoísmo puro, mas não é, ou pode ser que seja, mas não o egoísmo no sentido de ausência de solidariedade, pois até me considero uma pessoa bastante solidária, é um egoísmo mais como um medo de me perder, me perder no abismo do outro e nessa infinidade não mais encontrar a mim mesma. Isso parece loucura até mesmo para mim!!
Essa conclusão me assutou bastante, pois percebi que todos os movimentos que eu faço é para ficar sozinha, é para que se concretize o meu medo secreto de viver sozinha, o que, de maneira alguma, eu desejo de forma consciente, mas termino fazendo como uma profecia que, após anunciada, não se sabe se se concretizou porque foi proclamada ou se se concretizaria de qualquer maneira...
Não obstante tudo isso, quero aprender a permanecer na vida do outro...
Mavie.