terça-feira, junho 26, 2007

Minha rainha

Protegida do meu amor

São tuas todas as palavras

E quaisquer que sejam as sensações

Ditas e sentidas por mim.


Eu tenho um amor que contempla

De todo entregue a ti

Ainda que seja finito enquanto vida

Porém eterno, enquanto palavra houver

E sentimento existir.


Valério
Ana cai das nuvens.

Ana adora sentir, romantizar e experimentar. Aposta no tentar, no sorriso e no inusitado. E, como querendo se justificar, destaca que mantém limites e caretices. Crer que a ausência de certos procederes não lhe conduz a liberdade. Como mesmo diz, ela engana ou pensa que engana. Quem a vê a considera calma, tranqüila, meiga e sensível. Quem passa a conhecê-la, não consegue conte-la em adjetivos e prendê-la em fórmulas de boa moça. Ela expõem o que tem de pior, lembra que esconde sempre algo bem pior e se mostra como quem tem a essência divina. Pra completar, deixa bem claro que isso não a torna diferente, pois a essência é humana, inerente.

No entanto Ana tem uma coisa que não sabe de onde vem. Ela pensa inclusive que todos possuem essa coisa, mas não sabem percebê-la, usufruí-la. Ana enjoa. Impressionante! Ela enjoa! Enjoa os amigos, a família, o trabalho. Mas isso não causa mais tanta culpa. Isso é que ela não sabe de onde vem! Ela simplesmente aproveita pra se ver livre! Olha que ótimo: Ana diz que não tem filhos e nem marido, ou seja, não precisa abandoná-los e nem se separar! Ela acha isso "ma-ga-vi-lho-so"! Pois diz que se tivesse, não poderia mudar!

Ana abusa palavras rasas, novidades velhas, princípios exaltados e não cumpridos. Abusa suas bolsas e bijuterias. Abusa a especialização. Abusa o novo amor. De repente, não mais que de repente, tudo deixa de ser lindo.

Aí ela lembra de sua natureza caída: podre e rasa. Inerente. E nem faz questão de se sentir gente. Ela é podre. Simplesmente podre. E então, quando percebe isso, deixa o enjôo de si mesma e se curte!

Ana

sexta-feira, junho 22, 2007

Lembrei das nuvens.


Tinha esquecido do toque que estremece, do que beijo que esquecemos que estamos beijando, do sonho de construir uma vida a dois, do brilho no olhar, do mergulhar no olhar, do medo de perder, dos cheiros, do sorriso inesquecível, do frio na barriga, da dúvida, do medo... do medo de amar.

Tinha esquecido do chorar pelo medo de perder. Do medo de não ser da vontade de Deus, ainda que eu tenha a certeza de que com isso nada posso fazer.

Tinha esquecido dos sonhos de preparar um jantar, de levar um sonho de valsa, de passar pra dar um beijo.

Tinha esquecido do cuidar, da saudade, do elo, da vivacidade, da coragem, da leveza.

Tinha esquecido das nuvens.
Ana

segunda-feira, junho 18, 2007

Sem título

Sou Adagga: ludovicence, maranhense, brasileiro, ora situação, ora oposição, ora nada. Se me perguntam sobre Sarney, digo que o respeito, que o aceitaria como parceiro de carteado e quem sabe colega de um vinho mais caro, mas que dificilmente o teria como exemplo, para não dizer “nunca”. Se me perguntam sobre Jackson, digo que já pareceu melhor, mas que hoje não sei diferir quais são homens e quais são porcos.

Eu vejo a minha cidade, vejo as pessoas, vejo o trânsito e vejo ao mesmo tempo nada. Uma cidade que não está preparada para crescer, como também é o meu país e o meu salário. Ao contrário, meu Estado apenas deseja manter-se no mesmo lugar, estando preparado ou não para o que chamam de “crescer”.

Em que resultará o Programa de Aceleração do Crescimento para o Maranhão? Que significado prático terá para minha vizinha frustrada que se queixa dos gastos com manutenção do sempre prejudicado carro que vive entrando e saindo dos buracos do Vinhais?

Opa, calma! Mas o quê que é o Brasil mesmo? Ah, lembrei, o Brasil é a República das Bananas... E eu achando que ouvi dizer que era um país. Tsc...

Sabe, hoje eu trabalhei bastante, contei umas histórias com a minha chefe, levei meu avô ao médico, desejei ter a minha mulher comigo e agora estou ouvindo FatBoy Slim no último volume. Estou tão cansado, mas tão cansado, que poderia até dizer que sou ludovicence, maranhense, brasileiro, às vezes situação e noutras nem tanto. Ainda bem que ainda me resta alguma consciência do que estou pensando -- não quero passar por louco.

Deus meu dê uma boa noite de sono. Amém.

domingo, junho 10, 2007

Decepção, às vezes fico pensando o que implica essa palavra e a força que existe nela de expectativas frustradas, esperanças e anseios depositadas em alguma coisa ou pessoa e a cobrança e/ou exigência que nela se encontra intrinsecamente impregnada, ocasionando uma certa pressão a quem é imputada a tal decepção... Pressão, sentimento que, particularmente, detesto sentir ou fazer os outros sentirem...
Independente desse significado, o fato é que decepções acontecem, como lidar com ela pra mim é o mais difícil, nem tanto quando envolvem acontecimentos objetivos (profissionalmente falando), mas, principalmente, quando me atingem através de pessoas tão próximas e tão queridas, pessoas de quem esperava apoio e não obtive, esperava consolo e não me acolheu ou esperava simplesmente que estivessem disponíveis e não estavam.
Tenho uma tendência nessas situações a me recolher e tirar a pessoa que me decepcionou da minha vida e reconheço em mim até uma certa impiedade nesses casos, sobrelevando meu sentimento de autopreservação, pois é como se cortasse a pessoa da minha convivência, sem sentimento, sem falta, sem dor, além daquela própria advinda da decepção, mas que depois passa, depois de um tempo esqueço, mas então a pessoa causadora já não faz parte da minha vida e talvez saiu até sem saber porquê me magoou tanto.
Então, me pergunto: será esse um comportamento de quem quer amadurecer no conhecimento do outro e de suas próprias relações ou simplesmente de alguém que tem tanto medo de se machucar e de se expor ou que se acha tão infalível, ao ponto de não mostrar que sofreu e que precisa que o outro enxergue a sua dor. O problema é que isso implica, também, uma demonstração de fragilidade e frustração, o que sempre aliei a cobrança e pressão, sentimentos de que tenho pavor...
Tenho pensado nisso porque acho que as pessoas em nossa vida em algum momento vão nos desapontar e decepcionar e o que acontecerá se não falarmos, se não demandarmos alguma espécie de reflexão sobre esse sofrimento que pode ser justo ou não, baseado ou não na realidade, mas existe e dói profundamente.
Pois o afastamento de todo aquele que causa dor também é o afastamento do amor, da alegria e de todas as pessoas que nos tocam de maneira mais especial e querida, o que, pelo menos pra mim, não é possível, pois amo e amo profundamente, muitas vezes de maneira tão disponível àqueles que me são mais próximos, que por isso me abismo tanto diante de um comportamento que não reflita essa mesma disposição.
Talvez eu tenha que aprender a falar, falar dessa dor e entender que amar pressupõe uma reconstrução desse mesmo amor diariamente, também, através das falhas do outro e do reconhecer esse outro como ser real, não ideal, feito também de dores, alegrias e falhas, tendo que, ao final, decidir se o amor sobrevive a tudo isso ou não e se não, aí é outra história...

Muita Luz. Morgana.

sexta-feira, junho 08, 2007

Sem título.

A minha avó é a senhora das músicas de dor de cotovelo. Não que ela tenha vivido as tristes situações narradas em letras tão infelizes, mas é que ela é, assim como eu, grande admiradora desse gênero musical, por isso nos entendemos muito bem nesse sentido (e em outros também). A propósito, ela e meu avô estão casados há 63 anos.

Bom, vou deixar com vocês uma das músicas apresentadas a mim por ela. Chama-se O Ébrio, de Vicente Celestino. Essa música virou até filme cujo papel principal foi encenado pelo próprio Vicente Celestino, em 1946. Na falta do que mais dizer, deixo também as primeiras partes de um conto que nunca terminei, chamado Juvenal Pinto Pessoa (às vezes eu chamo de “Juvenal, o Pinto em Pessoa” – que idiotice!).

Um abraço e um beijo, principalmente para Billie the Jean e AnaBela.


O ÉBRIO – Vicente Celestino

1ª parte – narrada

Nasci artista. Fui cantor. Ainda pequeno levaram-me para uma escola de canto. O meu nome, pouco a pouco, foi crescendo, crescendo, até chegar aos píncaros da glória. Durante a minha trajetória artística tive vários amores. Todas elas juravam-me amor eterno, mas acabavam fugindo com outros, deixando-me a saudade e a dor. Uma noite, quando eu cantava a Tosca, uma jovem da primeira fila atirou-me uma flor. Essa jovem veio a ser mais tarde a minha legítima esposa. Um dia, quando eu cantava A Força do Destino, ela fugiu com outro, deixando-me uma carta, e na carta um adeus. Não pude mais cantar. Mais tarde, lembrei-me que ela, contudo, me havia deixado um pedacinho de seu eu: a minha filha. Uma pequenina boneca de carne que eu tinha o dever de educar. Voltei novamente a cantar mas só por amor à minha filha. Eduquei-a, fez-se moça, bonita... E uma noite, quando eu cantava ainda mais uma vez A Força do Destino, Deus levou a minha filha para nunca mais voltar. Daí pra cá eu fui caindo, caindo, passando dos teatros de alta categoria para os de mais baixa. Até que acabei por levar uma vaia cantando em pleno picadeiro de um circo. Nunca mais fui nada. Nada, não! Hoje, porque bebo a fim de esquecer a minha desventura, chamam-me ébrio. Ébrio...


2ª parte – cantada

Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer
Aquela ingrata que eu amava e que me abandonou
Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer
Não tenho lar e nem parentes, tudo terminou
Só nas tabernas é que encontro meu abrigo
Cada colega de infortúnio é um grande amigo
Que embora tenham como eu seus sofrimentos
Me aconcelham e aliviam o meu tormento
Já fui feliz e recebido com nobreza até
Nadava em ouro e tinha alcova de cetim
E a cada passo um grande amigo que depunha fé
E nos parentes... confiava, sim!
E hoje ao ver-me na miséria tudo vejo então
O falso lar que amava e que a chorar deixei
Cada parente, cada amigo, era um ladrão
Me abandonaram e roubaram o que amei
Falsos amigos, eu vos peço, imploro a chorar
Quando eu morrer, à minha campa nenhuma inscrição
Deixai que os vermes pouco a pouco venham terminar
Este ébrio triste e este triste coração
Quero somente que na campa em que eu repousar
Os ébrios loucos como eu venham depositar
Os seus segredos ao meu derradeiro abrigo
E suas lágrimas de dor ao peito amigo



JUVENAL PINTO PESSOA
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O DRAMA

Juvenal Pinto Pessoa decidiu que deixaria a mulher alegando abandono sentimental. Sendo assim, tomaria as deixas de uma vida embriagada e julgava mais que adequada a companhia de mulheres sem propósitos familiares e sentimentos impressos em cédulas de Real, pois ali encontraria o refúgio que perdera na ausência da amada, dizia em pensamento.

Convocou então os dois principais amigos para solenemente comunicar a decisão:

- De amanhã não passa! – disse o corajoso. E brindaram todos numa só voz.

Pode-se dizer que realmente se tratava de um corajoso. Juvenal era daqueles que tremiam frente um sorriso mal intencionado de uma que não fosse a digníssima sua mulher. Tremia e temia, pois acreditava cegamente que ela possuía o olho que tudo via, o olfato que tudo sentia e mais ainda toda sorte de paranormalidades capazes de detectar a mais inocente das malícias imaginadas nos mais íntimos dos íntimos pensamentos. Fora isso, ele era completamente apaixonado, ciente de que encontrara, finalmente, a mulher mais próxima daquilo que chamam de “mulher da minha vida”.

O problema é que as coisas desandaram. Já não havia mais os encontros habituais, o bem humorado tornou-se profundamente desconfiado e tudo mais que antes funcionava perfeitamente passou a envergonhar o precioso mérito outrora ostentado pelo jovem Juvenal Pinto Pessoa. O homem fez até promessa, jurou a quem no céu quisesse ouvir que faria cumprir seus dons religiosos sem tropeçar nem mesmo diante da mais angelical prevaricação, mas ainda assim o dito cujo não correspondeu. Infelizmente não se tratava de mandingas ou coisas afins, o coitado era um escravo dos seus sentimentos: se o coração batia descompassado, descompassado também seria o seu membro-irmão. Lamentou-se.

E foi assim, cabisbaixo em todos os sentidos, porém decidido, que no dia seguinte o rapaz foi até a causadora anunciar-lhe a decisão.


PHARMÁCIA BAR

- Ela me disse que tem ido estudar com uma amiga – disse Juvenal.
- Mas aos sábados e domingos durante o dia inteiro?! – perguntou desconfiado o amigo Teotônio.
- Sim, o dia inteiro – respondeu Juvenal – mal consigo vê-la à noite.

Algumas coisas óbvias e que também são dolorosas exigem um momento de silêncio antes de serem ditas. Foi quando todos elevaram os copos de cerveja até a boca e em seguida espalharam os olhares pelo ambiente por alguns instantes.

- E há quanto tempo que vocês não se vêem direito? – interrogou Santiago.
- Isso já tem umas cinco semanas. Fora isso, ela disse que me tornei uma pessoa chata pelas minhas cobranças diárias, que não tem tempo pra mim e coisa e tal.
- Ainda disse isso?! – perguntou Teotônio mais desconfiado do que antes.
- Pois é – disse o injustiçado Juvenal.
- Olha, meu querido, isso pra mim não é namoro. A minha mulher quer estar sempre comigo, não arranja saídas demoradas, situações impossíveis... Veja bem! – recomendou Teotônio.
- Eu sei, por isso estou aqui com vocês.
- Mas o que tu pretendes fazer em relação a isso? – perguntou Santiago.
- Estou sofrendo, desanimado. Bom, eu vou terminar tudo isso amanhã – disse o triste rapaz, levantando o copo que segurava propondo um brinde sofrido à decisão, brinde este compartilhado por todos – De amanhã não passa!

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Adagga

terça-feira, junho 05, 2007

Momento desabafo

Sinceramente não sei que "deus" é esse que inventaram. Assemelha-se ao Gênio da Lâmpada, onde as esfregadas representam as fortes “orações” dos que crêem no próprio poder. No poder que ao ser intensificado através de rituais, meras formas e formulas de se orar, fazem com que o gênio saia para atender os dez mil desejos de seus “achadores”. Como se Deus pudesse ser achado e como se pudesse caber dentro de uma lâmpada.

A destacar que a historia da lâmpada do Aladim é bem menos presunçosa, pois só oportuniza a realização de três desejos, azar de quem não aproveitá-los. Já este novo deus foi criado para atender os anseios de uma vida melhor. Melhor??? Melhor não, perfeita.

Aí fica a frase: Deus é Deus.

Soberano, não cabe dentro de nossos rótulos, “verdades”, religiosidade, costumes, valores ou qualquer outra lâmpada que tentemos colocá-lo.

Ana