Decepção, às vezes fico pensando o que implica essa palavra e a força que existe nela de expectativas frustradas, esperanças e anseios depositadas em alguma coisa ou pessoa e a cobrança e/ou exigência que nela se encontra intrinsecamente impregnada, ocasionando uma certa pressão a quem é imputada a tal decepção... Pressão, sentimento que, particularmente, detesto sentir ou fazer os outros sentirem...
Independente desse significado, o fato é que decepções acontecem, como lidar com ela pra mim é o mais difícil, nem tanto quando envolvem acontecimentos objetivos (profissionalmente falando), mas, principalmente, quando me atingem através de pessoas tão próximas e tão queridas, pessoas de quem esperava apoio e não obtive, esperava consolo e não me acolheu ou esperava simplesmente que estivessem disponíveis e não estavam.
Tenho uma tendência nessas situações a me recolher e tirar a pessoa que me decepcionou da minha vida e reconheço em mim até uma certa impiedade nesses casos, sobrelevando meu sentimento de autopreservação, pois é como se cortasse a pessoa da minha convivência, sem sentimento, sem falta, sem dor, além daquela própria advinda da decepção, mas que depois passa, depois de um tempo esqueço, mas então a pessoa causadora já não faz parte da minha vida e talvez saiu até sem saber porquê me magoou tanto.
Então, me pergunto: será esse um comportamento de quem quer amadurecer no conhecimento do outro e de suas próprias relações ou simplesmente de alguém que tem tanto medo de se machucar e de se expor ou que se acha tão infalível, ao ponto de não mostrar que sofreu e que precisa que o outro enxergue a sua dor. O problema é que isso implica, também, uma demonstração de fragilidade e frustração, o que sempre aliei a cobrança e pressão, sentimentos de que tenho pavor...
Tenho pensado nisso porque acho que as pessoas em nossa vida em algum momento vão nos desapontar e decepcionar e o que acontecerá se não falarmos, se não demandarmos alguma espécie de reflexão sobre esse sofrimento que pode ser justo ou não, baseado ou não na realidade, mas existe e dói profundamente.
Pois o afastamento de todo aquele que causa dor também é o afastamento do amor, da alegria e de todas as pessoas que nos tocam de maneira mais especial e querida, o que, pelo menos pra mim, não é possível, pois amo e amo profundamente, muitas vezes de maneira tão disponível àqueles que me são mais próximos, que por isso me abismo tanto diante de um comportamento que não reflita essa mesma disposição.
Talvez eu tenha que aprender a falar, falar dessa dor e entender que amar pressupõe uma reconstrução desse mesmo amor diariamente, também, através das falhas do outro e do reconhecer esse outro como ser real, não ideal, feito também de dores, alegrias e falhas, tendo que, ao final, decidir se o amor sobrevive a tudo isso ou não e se não, aí é outra história...
Muita Luz. Morgana.