segunda-feira, junho 21, 2010

A cápsula do tempo (A caixa de Pandora)

Há dias em que parece que tudo conspira em favor de um pensamento que insiste em rondar ou invadir nossas cabeças.
Esta semana estou assim. Cercada, invadida e por que não dizer incomodada por tais pensamentos, os quais tem tido em seu favor uma verdadeira conspiração dos meios de comunicação, de conversas esparsas em botequins ou no cafezinho no intervalo do trabalho.
Ontem, excepcionalmente, assisti ao Fantástico, programa que sempre evitei por representar cruelmente a iminência da segunda-feira, o que costumava me deprimir só de ouvir a vinheta de abertura.
Em meio a todas as notícias a respeito da Copa do Mundo, houve uma reportagem que me chamou a atenção sobre uma tal cápsula do tempo feita por um grupo de adolescentes há dez anos atrás.
Esta tal cápsula era uma caixa de papelão onde todos eles, com a orientação de um psicólogo que à época era seu professor, depositaram cartas, papéis, fotos, figuras que ilustravam seus sonhos, certezas, planos e projetos.
Chegou a ser comovente assitir à abertura daquela cápsula que tinha tomado uma conotação de uma caixa de Pandora. Quantas desilusões, quantos enganos, quantos vacilos e frustrações haveria dentro daquela aparentemente inofensiva caixa de papelão?
Houve lágrimas de arrependimento, a sensação mais do que nítida de que aos 15 anos tudo é muito intenso e parece que vai durar para sempre, o choque com as perdas, a alegria com os ganhos advindos da mudança de rotas, a conclusão da ideia de que não existe nada mais valioso do que a família (pensamento quase absurdo para quem tem 15 anos).
Tudo isto me fez lembrar de algo que fiz entre os 19 e 20 anos em uma dinâmica de grupo proposta pela diretora da empresa em que eu estagiava à época. A atividade consistia em escrever uma carta dirigida a uma pessoa querida, imaginando-se cinco anos à frente, como se contasse no tempo presente o que nos imaginávamos fazendo dali a 5 anos.
Dezenove ou vinte é bem mais que quinze. Aos dezenove anos já temos uma visão mais realista da vida. Em regra,já temos melhor noção do valor do dinheiro, estamos inseridos no mercado de trabalho, sabemos que nada dura para sempre e que sonhos podem ser apenas sonhos. O que ocorre é que ainda é muito difícil aceitar tudo isto quando se tem 20 anos! Estamos começando a caminhada, dando nossos primeiros passos rumo à vida inteira. São "os primeiros anos do resto de nossas vidas!"
Cinco anos depois de ter escrito aquela carta, eu não a tinha em mãos, mas sabia de cor e salteado quase tudo o que havia posto nela: todos os planos, prazos, sonhos...
Foi frustrante demais revisitar aquele momento.
Logo depois daquela experiência,eu passei por um turbilhão de conflitos emocionais e profissionais que me fizeram dar a minha um rumo totalmente distinto do que eu havia projetado naquela carta. Os anos continuaram passando e eu fui ficando cada vez mais distante daquela rota. Hoje, tudo aquilo pode até parecer ter sido escrito por outra pessoa. É só aparência. Este é o grande problema. Muito do que foi dito ainda é desejado e mais de dez anos depois é dilacerante olhar para trás e ver o que ficou por fazer.
Antes do término da reportagem, recebi o telefonema de uma amiga propondo que juntássemos um grande grupo de amigos e tentássemos fazer algo como aqueles adolescentes haviam feito, só que com um prazo para abertura bem menor. Afinal, aos trinta anos já não se está mais nos primeiros anos de nossas vidas, nós já estamos VIVENDO.
Sinto-me agora como se no meio de uma estrada de onde não se vê mais o ponto de partida e o de chegada ainda é turvo. Sinto-me atropelada por meus antigos sonhos e por minha própria vida. Já não tenho tempo para devaneios vãos. Já não tenho tanto tempo para sonhos. Agora preciso de projetos e planejamentos, a curto prazo e expectativas bem reais. Não é mais hora de ficar deitada na cama, de perninhas para cima imaginando o dia de amanhã. O amanhã já é hoje. A vida é agora. E o futuro... Não está mais "ali logo em frente a esperar pela gente", mas continua sendo "uma astronave que tentamos pilotar. Não tem tempo, nem piedade... sem pedir licença, muda a nossa vida e depois convida a rir ou chorar..." como diz Toquinho em sua Aquarela.
O futuro não está mesmo a nossa espera. Ele já está ou já é!
Para completar a conspiração, entrei em um blog recomendado por uma amiga e olhem só o segundo texto da página:

"Quando eu era pequena, achava que aos 28 anos eu seria mais do que gente grande: seria forte, independente, bem-resolvida e super poderosa. Já teria marido, filhos, casa, carro, gato e cachorro; já seria uma profissional muito respeitada e requisitada; já teria desbravado o mundo em viagens emocionantes e passaria todos os meus dias esbanjando sorrisos e suspiros por finalmente ser uma mulher-maravilha. Hoje, olhando para a minha vida neste exato momento, vejo quão ingênua e romântica foi a minha criança ao sonhar com o meu próprio futuro. Porque na infância a gente costuma acreditar que existe um ápice na vida adulta, com tudo perfeito, nos trinques, e é só lá na frente, muito tempo depois, quando estamos diante de um espelho e nos olhamos nos próprios olhos, que nos damos conta de que os anos simplesmente passaram e que a gente continua tendo um enorme caminho a percorrer. Caminho repleto de flores, sim, mas também de surpresas, desafios, tropeços e recomeços. Eu não sou a Paloma que imaginava que seria quando posei para a foto ao lado, mas nem por isso sou menos feliz. E agradeço à vida hoje, dia em que completo 28 anos, por estar exatamente aqui - e por ser exatamente quem eu sou."

Foi reconfortante ler este texto, mesmo sabendo que aos 20 anos eu não era mais tão criança.
E assim, a vida segue. Portanto, arregacemos as mangas porque agir e viver pode ser ainda mais excitante e divertido do que sonhar de perninhas para o alto!!

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