Esse post tinha sido removido daqui em uma crise de auto-censura, mas há alguns dias tenho repensado algumas coisas e lembrei de duas frases que um amigo me disse em ocasiões diferentes, mas que sempre me vêm à cabeça de maneira atrelada.
A primeira é: "Billie, você se explica demais, se justifica demais!" E a segunda é: "Foda-se o mundo que eu não me chamo Raimundo!!!"
Por essas frases e algumas outras razões,concluo que não me chamo Raimundo e não perco a mania de me explicar. Assim, ligo o "foda-se" e republico um desabafo de um momento super nostálgico e muito valioso prá mim.
Relendo os posts anteriores do confessionário, encontrei algo de doce nas saudades de Cris que me fez lembrar da minha infância, de meus sonhos e fantasias de menina. Um menina falante, que assim como agora, se negava a falar de amor ou qualquer coisa que revelasse sua tremenda fragilidade. Até hoje, no auge dos vinte e tantos anos não entendo muito bem esse mecanismo de defesa, não sei ao certo como ele foi construído, só sei que ele existe e já faz muito tempo.
Desde os primórdios em que aquela garota de óculos, gordinha e cdf se punha em frente à penteadeira com sua melhor roupa, os sapatos e acessórios da mãe, com uma maquiagem que imitava as que ela via na TV e vários textos, textos que ela passava a semana inteira redigindo, se preparando para a apresentação do fim de semana.
Billie adorava escrever, mas nunca se permitiu ter um diário que fizesse jus ao nome. Escreveu pouquíssimas vezes confissões, não permitia nem a si mesma reler seus pensamentos mais íntimos. Imagina quando ela se apaixonou pela primeira vez (nossa, assumiu que gostava do tal menino anos depois).
Billie se atinha a escrever sobre aquilo que via e ouvia. Eram textos dissertativos inocentes, mas feitos com muito capricho, com uma visão mesclada entre o que ela via e ouvia pela TV, as críticas de sua avó, extremanete atualizada envolta por jornais e noticiários, e a sua imaginaginação prá lá de fértil. Assim, ela passava a semana redigindo as matérias do jornal do sábado, o seu jornal, apresentado em frente àquela velha penteadeira de madeira escura e espelho embaçado.
Seu sonho era ser jornalista, viajar o mundo, falar várias línguas, ter um apartamento, morar em uma cidade grande e ter os cabelos ruivos e lisos como os de Solange-personagem de uma novela que alguns de vocês devem lembrar. O nome era Vale tudo e a personagem tinha todas essas características e chamava a todos de chérrie (não sei bem se é assim, meu francês é praticamente nulo). Acho que foi nessa época que ela teve certeza de que era isso que queria ser quando crescesse. A mocinha da história, refinada, independente, nem sempre tão amada, mas sempre otimista, viajada, culta, ruiva e jornalista, o mais importante de tudo!
O tempo passou e Billie foi se esquecendo de muitos desses sonhos, assim como de muita coisa desse tempo, ficou tudo nesse baú que hoje reviro com muitas saudades, sentindo todos os sabores, odores e aquela crença, quase certeza, de um futuro brilhante daquela menina que há muito não vejo, mas que com a qual sei que ainda tenho muito a aprender. E estou certa de que um dia nos encontraremos de novo e acertaremos todas as nossas contas!
Billie Jean
2 comentários:
Olha, devo confessar que me identifiquei com tudo, desde a penteadeira (que só os nossos avós ainda conservam com esse nome e função) até os sonhos e platonicidades da juventude que, por algum motivo, acharam por bem recolherem-se ao baú. Tenho certeza de que muitos outros aqui hão de achar suas lembranças depois de uma boa reflexão sobre a tua infância. Eu achei!
Um grande beijo!
Adagga
A menina de quem vc fala continua no mesmo lugar... Rindo do jogo de esconder que faz desde que vc começou a tratá-la como uma criança, apenas.
É preciso força pra sonhar, Billie... E mais ainda pra tornar mais leve a vida.
Procure tomar a sábia inocência dessa menina nas mãos... e siga em frente querida, cultivando os sonhos que fazem que você se sinta realmente você.
Beijos à notável menina que, mesmo escondida, és!
Sabina.
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