Eu acho engraçada a forma como as pessoas exercitam suas percepções. Aproveitei o sábado pra assistir com meu avô o jornal que passa à noite na Bandeirantes, aquele apresentado por Ricardo Boechat (não lembro se é assim que se escreve). Estávamos na sala, somente nós dois e cada um no seu sofá, eu deitado descansando do meu dia e ele sentado servindo-se de leite líquido gelado, ambos bem atentos aos noticiários. Até aí tudo bem, quando então entra o horário comercial.
Surge no televisor e no meu coração aquela loira gostosíssima que faz a publicidade do UOL. Que mulher maravilhosa, desenrolada, resolvida, jeitosa... Eu cantaria “Coração Vagabundo” de joelhos e com uma rosa na mão apenas por alguns minutos daquela atenção dourada toda pra mim. E depois disso?! Ah... Eu nunca mais seria o mesmo Adagga... Seria um sem-rumo qualquer, distraído, ainda em êxtase pelo olhar em mim marcado por aquela... Aquela... Ai... Aquela linda mulher... Sei que nada é impossível, mas até lá eu vou escrevendo e ralando com as próprias mãos, se é que vocês me entendem.
Mas não é bem sobre isso que quero falar.
Mais do que ela, chamou minha atenção a cara que meu avô fazia durante aquela longa propaganda. Quem já viu sabe que ali são oferecidas várias ofertas e pacotes disponibilizados pelo UOL. São vídeos, jornais, shopping, músicas, jogos, etc., etc., etc... E tudo, óbvio, voltado para a Internet.
Meu velho era de um olhar que não pude definir. As sobrancelhas estavam suspensas, o leite ele já não bebia mais e todo o resto estava ali, parado, como se a sua atenção estivesse sendo sugada pelas inúmeras vantagens de assinar por R$14,90 o serviço de banda larga do Universo OnLine. Para os que estão com dificuldade para imaginar a cena, é como botar uma criança para ver uma bela propaganda em outro idioma.
Hesitei em perguntar se ele estava entendendo tudo o que era oferecido naquele momento, pois não subestimo as pessoas, mas lembrei das propagandas do seu tempo, em que frases curtas e criativas faziam a marca e o produto entrar nas casas dos consumidores, como a do Sabão Martins, cujo slogan é “Uma mão lava a outra e Sabão Martins lava as duas”, e da Cica, que dizia “Se a marca é Cica bons produtos indica”. Até hoje ele fala com gosto dessas propagandas.
Acabei não resistindo e lancei uma pergunta:
- E aí, vô, vai assinar UOL?
Ele respondeu:
- Eu?! Pra quê?! Nem sei o que é isso!
São os tempos modernos, meu avô – pensei comigo. E voltamos ao jornal.
Adagga
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