Criei a hipótese de um amante que me levaria embora. Ele escalaria o pinheiro em frente à minha janela, entraria em meu quarto e me tomaria em seus braços. Sua aparência ou que dizia nunca ficou claro; era apenas um espectro querido que me envolvia, cujo rosto ficava cada vez mais luminoso. Demorou tanto para aparecer que em pouco tempo passei da espera para a saudade. Certa noite fiquei sentado ao lado da janela e contemplei a lua, fazendo-lhe um brinde com uma taça de champanhe cheia de suco de uva. Sabia que a imensa e fria luz da lua também estaria caindo sobre ele, distante e igualmente solitário em um quarto longínquo. Desejei que ele pudesse adivinhar minha existência e minha necessidade, que intuísse que naquele quarto às escuras, naquela casa de campo, um rapaz de 14 anos estaria à sua espera.
Ocasionalmente, quando passo por sonolentas casas dos subúrbios, pergunto-me qual seria a janela por trás da qual um garoto estaria à minha espera.
Após algum tempo percebi que só o iria conhecer mais tarde; escrevi-lhe um soneto que começa assim: “Pois eu o amei antes de conhecê-lo...” A idéia, creio, é que eu nunca iria discutir com ele, nem achar escassa sua devoção por mim; minha espera teria sido longa demais. Esperei tanto que estava quase zangado, certamente vingativo.
(...)
Bel Ami
Um comentário:
BelAmi, vc me tocou com tanta sensibilidade. Ouso tentar responder-lhe que prefiro chamar de sonho. Ilusão me parece algo nem sempre saudável.
Beijos verdadeiros
Cris Moreto
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