quarta-feira, agosto 09, 2006

Uma péssima noite

Tive uma noite péssima. O ventilador de pé estava girando. E eu odeio ventilador girando. Ele está com um problema no dispositivo que controla esse movimento. Daí, eu já comecei a ficar irritado. Liguei o ar-condicionado, mas como sou alérgico, comecei logo a espirrar. E a minha noite estava apenas começando.
Depois de alguns minutos de muita aflição e muitos espirros, quando eu finalmente consigo me concentrar para dormir, começo a ouvir duas vozes femininas que eram incrivelmente parecidas, como se viessem da mesma pessoa, porém o modo de falar era completamente diferente. Elas se puseram a conversar, ou melhor, discutir e a atormentar meu sono ainda mais.

- Eu estou muito triste, não consigo dormir – era uma voz meiga, de uma garota que beirava os 20 anos, eu acho. Ela falava baixo e muito calmamente.
- Deita, se concentra e dorme. Simples. Eu tenho que ir trabalhar amanhã cedo e não quero você tirando meu sono. – Disse a outra incisiva e diretamente. Ela tinha uma voz firme e bem decidida. Parecia ser um pouco mais velha que a outra, talvez pelo tom da voz.
- Preciso conversar. Vou ligar pra ele e dizer-lhe que ainda o amo. Estou me sentindo só.
- O que você tá dizendo? Enlouqueceu? Surtou?
- Por que eu não poderia fazê-lo, se estou sentindo vontade?
- Primeiro, porque já passa de meia-noite, e 70% das pessoas que trabalham amanhã cedo já estão dormindo, pelo menos todas aquelas que tem o mínimo de juízo, ao contrário de você, né? Segundo, porque isso seria uma loucura sem precedentes. Pra que isso agora? Estamos vivendo muito melhor sem ele. Você não vê? Você ainda acaba com a nossa vida com essas suas sandices! Estou quase desistindo de você. Parece que não aprende nunca! Vive procurando sarna pra se coçar. As coisas poderiam ser muito mais simples se você não se perdesse em tantas divagações e sentimentos inúteis!
- Eu não consigo entender suas estatísticas e estimativas. 70%, isso... 30%, aquilo. Nós somos pessoas, não somos números. Temos sentimentos e isso a gente não operaciona. Se você se permitisse sentir como eu, nossa vida seria melhor, talvez estaríamos mais felizes hoje.
- Agora você quer me culpar? Se temos o mínimo de tranqüilidade hoje, devemos a mim. Lembra-se de quando você assumiu o controle? Que desastre, hein? Temos prejuízos até hoje, lembra ou quer que eu cite?
- É... Nesse ponto você tá certa... Ok... Melhor esquecer tudo isso.
- Pois agora deita e vê se dorme! Que amanhã cedo a gente acorda! E você sabe que quando levanto cedo, acordo de mal humor!
-Tudo bem, boa noite.
- Boa noite. Desculpa se fui muito ríspida, mas é para o nosso bem.

Depois disso, o silêncio prevaleceu, pude apenas ouvir os soluços baixos daquela garota, que ontem, certamente também teve uma péssima noite.

Sílvio

Um comentário:

..::CONFESSIONÁRIO DAS LETRAS::.. disse...

Sílvio adorei seu texto, fiquei aqui me questionando se é real ou fictício. Não importa. Também tive uma péssima noite.

Bel Ami