quarta-feira, agosto 30, 2006

Vinhos e Utopias

Na frente da minha casa não tinha um bar de esquina e minha vizinhança era muito tranqüila e respeitosa. Brinquei amarrando corda nos carrinhos, subi em árvores pra pegar goiaba de vez, ri assistindo Chaves e comi manga verde com tempero seco e sal por quase toda a minha infância. Na adolescência eu não tive amigos embriagados, crises de identidade e nem me deixei influenciar pelas competições da puberdade. Fui virgem durante muito tempo, embora me relacionasse bem com as pessoas, e até os 20 anos eu namorei apenas duas mulheres cujos lábios e as mãos foram as únicas partes que pude tocar e imaginar nos meus momentos de prazer pessoal.

Entrei cedo na faculdade, assim como na igreja. Cursei os estudos e a vida no intuito de seguir um caminho tranqüilo e sem dívidas, ter uma mulher muito bonita e fiel, uma filha mais velha e um mais novo, carro na garagem, casa, emprego... Enfim, idealizava o “way of life” de cada vizinho do bairro que abrigou a minha infância sem deixar mágoas ou traumas.

E fui feliz assim por muito tempo.

Mas no fundo no fundo, não era bem isso que queria. Já não estava na casa dos pais, não tinha vínculos, nem filhos e muito menos uma mulher que tornasse a minha vida uma rotina. Era livre. Livre para as palavras, para o vinho, mulheres descompromissadas e noites enluaradas. Acordei então da utopia nascida numa infância feliz, qual essa não guardo rancores, mas que não se adequou à vida adulta que me reservava nos colos manjados das minhas amantes ávidas por cédulas e conversas, dos bares da vida e do vinho nosso de cada dia.


Um abraço aos Confessioneiros!



Adagga

2 comentários:

..::CONFESSIONÁRIO DAS LETRAS::.. disse...

Addaga, teus post me intrigam.
Escandalizam-me. Verdades que eu não sei se são verdades, mas que parecem tão bem aceitas... E penso: será que isso é bom?
É Addaga, penso isso. Chocam-me. Talvez me causem inveja pela forma que são simplesmente aceitas. Mas principalmente me fazem pensar: Será que isso é bom? Será que vale a pena? Ou será que o que vale perdeu o valor e o que não tem valor parece indispensável? Questiono-me, simplesmente.
E penso até onde vão meus valores e até onde vai minha hipocrisia? Até que ponto o vai meu questionamento? Acho isso ruim ou queria vivê-lo? Parece não monótono. Mas monótono é tudo que fazemos sem sentido... Qualquer coisa pode ser monótona! Parece liberdade por ter sido escolhida. Prisão por parecer a única liberdade.

Ana

Anônimo disse...

Adorável Ana, vou me concentrar no fim do teu comentário, pois foi o que chamou mais a minha atenção.
Acredito que somos o que escolhemos ser, mesmo que durante boa parte de nossas vidas soframos influências sociais e familiares. Eu tive as minhas, assim como tu tiveste as tuas, mas, no meu caso, optei por renegá-las em favor da natureza do homem que sou. De repente achei monótono ter uma família, filhos, tranqüilidade, um nome limpo na praça e tudo mais que outros tantos dariam um duro para ter, e hoje sou bem mais feliz. Não sugiro um teste, pois as pessoas diferem entre si.
Certo, mas o fato é que foi liberdade por ter sido escolhida, mas não chegou a ser prisão, visto que não foi a única saída a mim oferecida.

Te adoro.

Adagga